Turismo

RJ: Cresce a procura de turistas em favelas famosas

Com o avanço das UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora) em favelas cariocas, essas comunidades entraram de vez na rota turística da cidade. A fórmula para atrair cada vez mais turistas é a bela vista panorâmica da capital e a segurança proporcionada pela polícia. O R7 visitou as comunidades do Santa Marta (Botafogo, na zona sul) e do Chapéu Mangueira (Leme, na zona sul) e ouviu de guias locais e agências de turismo que a procura de estrangeiros e de moradores do Rio de Janeiro é crescente.

O Santa Marta, primeira comunidade a ganhar uma UPP, em dezembro de 2008, é o segundo passeio mais procurado na agência de turismo Jeep Tour. De acordo com Rafael Ricci, diretor da agência, a favela só perde para o Corcovado. Nos últimos oito meses, a empresa diz ter levado 1.500 pessoas para conhecer essa comunidade.

- O lugar se tornou mais uma opção de turismo, além do Cristo e do Pão de Açúcar. Além da curiosidade dos turistas, o apelo da UPP fez o produto ficar mais interessante e deve ser valorizado, pois ajuda a perder o medo, que sempre foi tão característico nesses locais.

Os estrangeiros procuram mais a agência do que os brasileiros, que chegam à comunidade por conta própria e são atendidos por guias locais, como Thiago Firmino, morador do Santa Marta nascido e criado no local. Ele, que cobra R$ 25 por pessoa pelo passeio, conta que atende até 50 turistas por dia em períodos de alta temporada, como o Carnaval e o Réveillon.

- Faço panfletagem na praia. Criei um blog sobre a comunidade, faço os cartazes de divulgação do meu trabalho e ainda fiz um crachá. Isso tudo sem ajuda nenhuma do governo.

Estátua do Michael Jackson

Firmino defende que é melhor conhecer o Santa Marta com um morador do que com um guia, que pode não conhecer tudo do local. Logo na subida da favela fica evidente que o guia, simpático e falante, se destaca entre os cerca de seis mil moradores da comunidade. Antes de pegar o bondinho, que leva cinco minutos para chegar ao ponto mais alto do morro, Firmino é parado por pessoas que pedem informações sobre o ponto mais famosos do Santa Marta.

- A laje onde tem a estátua do Michael Jackson é o lugar procurado pelos turistas. Vir na comunidade e não passar na laje é como viajar e ficar dentro do hotel.

O lugar foi uma das locações do clipe They don’t care about us (Eles não ligam para a gente, na tradução do inglês), gravado em 1996 no Santa Marta pelo cantor. No local, um grupo de americanos tirava fotos ao lado da escultura, levada à comunidade após a morte do cantor em junho de 2009. A turista Eve Trkla foi com os dois filhos visitar a comunidade.

- Nunca tínhamos ido a um lugar como esse. Achei muito interessante e a vista é realmente linda. O passeio vale a pena.

Após conversar com o tradutor dos americanos, Firmino, que "arranha" no inglês, comenta que a pacificação melhorou as condições de vida e de trabalho na favela.

- Eu sou guia desde 2007. Uma vez fiquei preso dentro da minha casa com um grupo de gringos, porque o tiroteio estava comendo solto. Hoje, não tem mais isso aqui. Não tem mais armas na favela. Meu filho brinca o dia todo por aí e eu não fico mais preocupado.

E é justamente a segurança o principal fator que permite o acesso dos turistas ao Santa Marta, que conta atualmente com policias e nove câmeras vigiando o local. Apesar disso, o morador reclama que falta infraestrutura e eventos para os turistas.

- Não tem banheiros químicos, por exemplo. Quando os gringos estão precisando fazer xixi, a gente apela para a casa dos vizinhos. Além disso, não tem lazer que mantenha eles aqui na favela. Eles vêm tirar fotos e vão embora. Precisamos de lazer como feijoada, rodas de samba e até o extinto baile funk.

Apesar dos problemas, Firmino registra todos os momentos do Santa Marta em fotos e documentários, com dinheiro do próprio bolso, e quer tombar barracos para preservar a história da comunidade.

Chapéu Mangueira

No morro Chapéu Mangueira, os moradores aceitaram bem a chegada dos policias da UPP, conforme relata o comerciante João dos Santos, que nasceu na comunidade.

- Aqui nós sempre fomos organizados, mesmo quando ainda tinha traficante armado na favela. Com a chegada da polícia, eu percebi, através dos clientes que compram no mercadinho, que aumentou muito o número de turistas.

Por outro lado, David de Jesus, dono de um bar no Chapéu Mangueira, diz acreditar que o perfil da comunidade mudou após a chegada da UPP.

- Hoje já tem muito gringo morando aqui. Antes, a gente sabia o nome de todo mundo e onde todos moravam. Agora, tem muitos desconhecidos por aqui.

Complexo do Alemão

O Complexo do Alemão, na zona norte do Rio, também começará a receber turistas a partir de abril. De acordo com Lúcia Maria Leite, vice-presidente da ONG Núcleo de Mulheres Brasileiras em Ação, instituição responsável pelo projeto, o objetivo é integrar os turistas aos moradores das comunidades.

- Queremos que eles vejam como é a vida dos moradores da favela. Vamos mostrar a ele como é o dia a dia e como vive a população.

Os interessados em visitar a comunidade deverão fazer o agendamento pelos telefones (0xx21) 3888-6660 ou (0xx21) 9813-4341.

Fonte: R7