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Reino Unido decide expulsar 23 diplomatas da Rússia após tentativa de assassinato de ex-espião russo

Theresa MayDireito de imagemREUTERS
Image captionPremiê britânica afirmou que caso é uma clara violação de acordos internacionais pela Rússia

O Reino Unido decidiu expulsar 23 diplomatas russos depois de Moscou não explicar como um gás neurotóxico foi usado para envenenar um ex-espião russo e sua filha, que viviam na cidade britânica de Salisbury há oito anos.

A premiê do Reino Unido, Theresa May, anunciou que os diplomatas terão uma semana para deixar o país e os identificou apenas como "oficiais de inteligência não declarados". Ela também retirou o convite feito ao ministro de Relações Exteriores russo, Sergei Lavrov, para que visitasse o país e disse que a família real não irá à Copa do Mundo.

A Rússia nega qualquer envolvimento na morte do ex-espião Sergei Skripal. A embaixada do país em Londres afirmou que a expulsão dos diplomatas é "inaceitável, injustificada e míope".

Skripal, de 66 anos, e sua filha, Yulia Skripal, de 33, permanecem internados em estado crítico após serem achados caídos em um banco de praça em 4 de março.

O detetive Nick Bailey também passou mal ao ser chamado para investigar o incidente e está em estado grave, ainda que estável, e acredita-se que esteja melhorando.

O governo russo não cumpriu o prazo dado por May para que começasse a cooperar no caso - até a meia noite de ontem -, o que levou a premiê a anunciar uma série de medidas com o objetivo de mandar uma "mensagem clara" ao país.

Sergei Skripal e Yulia SkipalDireito de imagemEPA/ YULIA SKRIPAL/FACEBOOK
Image captionO ex-espião e sua filha estão internados em estado crítico

Entre estas medidas, estão:

. A expulsão de 23 diplomatas;

. Intensificação dos procedimentos de segurança em voos privados, na alfândega e em fretes;

. O congelamento de bens do Estado russo quando houver evidências de que eles podem ser usados para ameaçar a vida ou propriedades de cidadãos britânicos ou residentes no país;

. Boicote à Copa do Mundo na Rússia por ministros de Estado e a família real;

. Suspensão de todos os contatos bilaterais de alto escalão entre a Rússia e o Reino Unido;

. Planos de criar novas leis para ampliar as defesas contra "atividade estatal hostil".

May disse a membros do Parlamento britânico que a Rússia "não explicou" como o gás neurotóxico foi usado dentro do Reino Unido, descrevendo a resposta como um ato de "sarcasmo, desprezo e provocação".

Ela disse que o uso de uma substância tóxica feita pela Rússia em solo britânico é um "uso de força ilegal".

A Polícia e o Exército isolaram áreas na cidade de Gillingham como parte da investigação de tentativa de homicídioDireito de imagemPA
Image captionA Polícia e o Exército isolaram áreas na cidade de Gillingham como parte da investigação de tentativa de homicídio

A premiê acrescentou que não havia "nenhuma conclusão alternativa possível além de que o Estado russo tinha culpa" na tentativa de assassinato do ex-espião e sua filha.

Ela disse ser "trágico" que o presidente Vladimir Putin tivesse "escolhido agir desta forma".

O líder do Partido Trabalhista, Jeremy Corbin, foi alvo de piadas de parlamentares do Partido Conservador, do qual May faz parte, ao questionar a primeira-ministra se ela havia respondido ao pedido feito pelo governo russo de que fosse enviada uma amostra da substância usada, também conhecida como "agente nervoso", para fazer seus próprios testes.

Ele afirmou que o incidente foi um ato "terrível e espantoso", pediu uma reação multilateral e disse que a redução da rede diplomática britânica em 25% nos últimos cinco anos era motivo de "grande arrependimento".

O ministério de Relações Exteriores do Reino Unido atualizou os conselhos dados a quem viaja à Rússia, citando o "aumento das tensões políticas" entre os dois país e aconselhando os cidadãos a "estarem cientes da possibilidade de haver um sentimento antibritânico e de que podem ser alvo de algum tipo de assédio".

Enquanto isso, a Polícia e o Exército isolaram áreas na cidade de Gillingham como parte da investigação de tentativa de homicídio.

Cerca de 180 soldados foram mandados para Salisbury para ajudar a remover veículos e objetos das áreas de interesse, enquanto o restaurante Zizzi e o bar Bishop's Mill, onde o ex-espião esteve antes de passar mal, permanecem fechados.

O ministro de Relações Exteriores russo, Sergei Lavrov, acusou o Reino Unido de fazer um "jogo político" e ignorar um acordo internacional sobre armas químicas.

Ele diz que Moscou teria cooperado se tivesse recebido um pedido formal de esclarecimento do Reino Unido, como determina a Convenção de Armas Químicas, que dá um prazo de dez dias para respostas.

O Reino Unido enviará ainda hoje informações sobre a investigação ao Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU), e já se reuniu com o Conselho do Atlântico Norte da Otan, onde expressou "sérias preocupações" com o uso de um agente nervoso, afirmando que isso era uma "clara violação de normas e acordos internacionais".

May agradeceu o apoio de aliados, como os Estados Unidos, a Otan e a União Europeia, e disse que o Reino Unido está pressionando por uma "resposta internacional robusta" no Conselho de Segurança da ONU.

"Isso não foi apenas uma tentativa de suicídio nem tampouco só um ato contra o Reino Unido", disse May.

"É uma afronta à proibição do uso de armas químicas. E é uma afronta ao sistema de regras do qual nós e nossos parceiros internacionais dependemos."

Skripal, que se tornou cidadão britânico, chegou ao Reino Unido em 2010 como parte de uma "troca de espiões" após ser condenado na Rússia por passar informações para o MI6, o serviço de inteligência britânico.

Fonte: BBC