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Princesas polêmicas demais para os filmes infantis
Não é de hoje que as princesas da Disney têm dado o que falar, seja pelas histórias que protagonizam ou pela visão diferenciada que alguns artistas dão a elas, imaginando como seriam se seus cabelos fossem realistas, se estivessem acima do peso ou se pertencessem a outras etnias.
O que você talvez ainda não conheça é uma série de princesas que, por serem turronas e polêmicas demais, acabaram não fazendo parte do universo Disney. A boa notícia é: nem por isso suas histórias são menos interessantes. Muito pelo contrário, até.
Quem resolveu mostrar isso de uma maneira bastante criativa e interessante foi Jason Porah, que criou um site chamado Princesas Rejeitadas, com a intenção de trazer ao conhecimento do público nomes e imagens de princesas de histórias inspiradoras, mas que não são tão populares como a da Cinderela ou da Bela Adormecida. Confira o resultado desse trabalho a seguir – tem até uma princesinha brasileira no meio:
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1 – Manuela Sáenz
Manuela nasceu de uma relação fora do casamento em 1797, quando esse tipo de estrutura familiar ainda era absurdamente julgado pela igreja e pela sociedade como um todo. Rebelde desde a infância, Manuela evitava conviver em sociedade e também não aceitava as regras da igreja. Trabalhou desde cedo com a criação de cavalos e, quando adulta, acabou se casando com um inglês chamado James Thorne.
O casório em si aconteceu com a ideia de que, ao encontrar um “bom partido”, Manuela ficaria mais calma. Como você já deve imaginar, a tática não funcionou. Aos 26 anos, Manuela abandonou o marido e seguiu seu rumo na companhia de um grupo de aventureiros.
Depois de algum tempo como aventureira, Manuela já fazia parte do Exército e recebeu o título de general após ser reconhecida por sua habilidade para coletar informações especialmente em Lima, no Peru. Pelo Exército, ela participou de várias viagens perigosas – algumas feitas a pé, inclusive. Manuela estava na Batalha de Ayacucho, de grande importância na luta pela independência.
Para provar que participou da Batalha, a guerreira passou a carregar consigo o bigode arrancado de um inimigo morto por ela. O bigode era usado em bailes de máscaras. Isso e o fato de ter um urso de estimação eram alguns pontos que faziam de Manuela uma mulher de poucos amigos.
Amante de Bolívar
Como se não bastasse, Manuela era uma das muitas amantes de Simón Bolívar. Diferente do que acontecia com as outras, Manuela era considerada a favorita do líder político. Em duas ocasiões ela chegou a salvar a vida do seu companheiro, ainda que Bolívar tenha dito ter se salvado sozinho na segunda ocasião.
Valente, Manuela costumava usar roupas masculinas para impor respeito. Às vezes era perseguida pela polícia e presa, mas tinha uma destreza tão grande que conseguia fugir com facilidade. Os policiais já sabiam: para deter Manuela, era preciso um monitoramento mais sofisticado.
Vale lembrar que até aqui Manuela ainda era uma mulher casada. É quase redundante explicar que ela tinha pontos de vista bastante diferentes a respeito de monogamia e estrutura familiar. Nas cartas que enviava ao marido, falava de Bolívar como seu amante sem o menor problema. Em uma das cartas, ela explica: “Não vivo sob as preocupações sociais inventadas para criarem tormento mútuo. Deixe-me, meu caro inglês. Vamos fazer um acordo: no céu vamos nos casar novamente, mas na terra não”.
O marido inglês passou a vida enviando dinheiro a Manuela, que se recusava a aceitar a ajuda. Depois de ficar viúva, ela também não quis nada do que havia recebido pelo testamento.
Quanto a Bolívar, as cartas que enviava a Manuela deixam claro que era por ela que ele era apaixonado, embora tenha tentado esconder isso em vida. Em uma dessas cartas, ele a chama de “a libertadora das libertadoras”. Manuela morreu aos 64 anos em decorrência de uma difteria. Em 2010, foi simbolicamente enterrada ao lado de Bolívar.
2 – Iara
Enfim a princesa brasileira! Só um aviso importante: ainda que seja uma sereia, Iara não tem nada a ver com a Ariel, que possivelmente é a sereia mais conhecida do mundo dos desenhos animados.
Membro de uma tribo da Amazônia, Iara era a filha de um líder espiritual e já cresceu sendo treinada para ser corajosa, gentil, forte e bonita. Ao contrário de Manuela, Iara era uma pessoa adorada por todos.
Toda essa valentia e generosidade acabaram fazendo com que Iara ofuscasse, ainda que sem querer, seus irmãos mais velhos. Preocupados com a própria reputação, os meninos decidiram que a melhor forma de resolver o problema seria matando a própria irmã, é claro. Como tinham noção de que nem mesmo em dois seriam capazes de acabar com ela, esperaram que Iara dormisse profundamente.
O plano não deu certo e, assim que os dois irmãos se aproximaram de Iara, ela acordou e os matou com um golpe só para defender a própria vida. Essa história trágica repercutiu de maneira ainda mais negativa com o pai de Iara, que não apenas não acreditou que a filha havia matado os irmãos em legítima defesa como declarou que todos da tribo deveriam sair à sua caça.
Vida de peixe
No final da perseguição, Iara foi capturada e jogada em um rio, onde deveria ter morrido afogada. Sua vida como sereia começou nesse momento, quando se tornou metade humana e metade peixe.
Iara não era qualquer sereia! Ela passou a ter poderes maiores e enlouquecia pescadores desavisados quando começava a cantar. A cantoria era tão boa e a sereia era tão charmosa que os desavisados ficavam hipnotizados com a beleza da cena e acabavam enlouquecendo.
Como toda lenda, existem várias versões que contam a história de Iara. Em algumas mais violentas, a sereia brasileira não apenas hipnotizava os pescadores, como os devorava. Há até quem diga que os pescadores eram levados por Iara ao fundo do rio, onde viveriam em um harém bizarro. De qualquer forma, você acha que a Disney representaria bem essa nossa princesa?
3 – Isabelle Eberhardt
Mais uma mulher que viveu à frente de seu tempo e desafiou conceitos ligados à moral, à razão e, inclusive, às leis. Filha de anarquistas russos, Isabelle saiu da Europa em direção à África, onde viveu experiências fantásticas, que incluem desde a sua inserção em uma seita islâmica e em movimentos políticos, seu quase assassinato e uma morte trágica no deserto.
Durante sua vida Isabelle adotou diversos pseudônimos. Seu primeiro livro foi publicado com a assinatura de Nicolas Podolinsky – a obra tratava de erotismo e necrofilia e se chamava “Sensualidade Sepulcral”. Na vida social e amorosa, ela gostava de ser chamada Nadia; entre os chefes das tribos que conheceu ela era conhecida como Mahmoud Saadi.
Inteligente e apaixonadamente dedicada ao islamismo, Isabelle era fluente em sete idiomas quando tinha apenas 20 anos e, com o passar do tempo, tornou-se fluente em árabe – dizem que as escolas locais a chamavam para trabalhar quando a ouviam falar.
Temperamento forte
Entre as outras características que definiam Isabelle estava seu vício em bebidas, cigarro e um derivado do haxixe. Durante a sua vida, Isabelle teve um grande número de relacionamentos, enfrentou policiais em batalhas perigosas, desperdiçou muito dinheiro e foi sempre conhecida por seu temperamento forte.
Ela também viveu tentando encontrar sua função social, seu papel no mundo. Trabalhou como escritora e jornalista, criando guias turísticos dedicados a mostrar lugares incríveis fora da Europa, e, embora tenha sido requisitada para trabalhar como informante na França e também na Argélia, Isabelle nunca demonstrou interesse nesse tipo de trabalho.
Ainda assim, sofreu um atentado e foi atacada por um suposto espião francês. O golpe a deixou gravemente ferida, mas Isabelle conseguiu sobreviver e, a partir de então, guardava o sabre que quase a matou como uma espécie de troféu.
Nossa jovem heroína russa morreu com apenas 27 anos, quando uma placa gigante de gelo derreteu nas montanhas e inundou o deserto onde ela morava. No momento de sua morte, ela conversava com o marido, ainda que alguns historiadores afirmem que o esposo a abandonou para salvar a própria vida.
Fonte: Princesas Rejeitadas