Meio Ambiente
Primatas brasileiros entraram na Idade da Pedra
Ao longo da nossa evolução como espécie, nós passamos por diversas “fases tecnológicas” — hoje conhecidas como Idade da Pedra, do Bronze e do Ferro, caracterizadas pelo desenvolvimento e uso de ferramentas específicas em cada um desses períodos. Essa divisão da pré-história é conhecida como Sistema de Três Idades, e foi concebida para se referir aos avanços conquistados exclusivamente pelos seres humanos no decorrer da História.
O mais interessante é que, segundo Robin Andrews, do portal IFLS, um estudo recente apontou que primatas da Tailândia parecem estar criando ferramentas há, pelo menos, 50 anos — sugerindo que outras espécies além dos humanos também podiam passar por diferentes fases tecnológicas. Mais interessante ainda é o fato de um novo estudo ter revelado que os macacos-prego brasileiros entraram na Idade da Pedra há 700 anos.
Macaquinhos espertos
De acordo com Robin, pesquisadores da universidade de Oxford, na Inglaterra, encontraram artefatos de pedra criados por macacos-prego há, pelo menos, 700 anos — o que significa que, quando a humanidade estava entrando na Renascença, os bichinhos brasileiros começaram a fazer martelinhos e outras ferramentas e usá-las em seu cotidiano. Aliás, pode parecer uma bobagem, mas os cientistas estão superimpressionados com a descoberta. Veja a seguir:
*Você pode ativar as legendas em português no menu do vídeo:
Segundo explicaram, as ferramentas mais antigas — criadas por espécies não-humanas — conhecidas até então foram encontradas em três áreas ocupadas por chimpanzés na Costa do Marfim, na África, e a datação apontou que os artefatos tinham entre 4,3 mil e 1,3 mil anos. Entretanto, as peças criadas pelos macacos-prego sugerem que outras espécies de primatas também estavam criando objetos e em outras partes do mundo além da África.
Os pesquisadores já haviam observado os macacos-prego aqui no Brasil usando pedras para “martelar” e quebrar a casca de castanhas e sementes, por exemplo. Ademais, os cientistas também observaram como os animais mais jovens assistiam aos mais velhos para aprender a usar as ferramentas.
Parceria entre espécies
Algo curioso que os pesquisadores descobriam sobre os artefatos usados pelos macacos-prego é que as ferramentas têm tamanhos, formatos e pesos diferentes, além de serem fabricados com rochas distintas. Segundo os cientistas, um dos artefatos usados pelos animais é feito com pedras mais chatas e que pesam, em média, quatro vezes mais do que as peças usadas como martelo — e que quase sempre são produzidas a partir de fragmentos afiados de quartzito.
Esse item, por sua vez, é quatro vezes mais pesado do que as demais pedras comuns que se encontram nas redondezas. Pois depois de abrir castanhas ou sementes com as ferramentas, os macacos costumam abandonar esses artefatos — e os cientistas passaram um bocado de tempo esperando que as peças fossem descartadas e escavando a área ocupada pelos animais para encontrar itens mais antigos.
Representação dos humanos da Idade da Pedra
No total, os pesquisadores conseguiram resgatar 69 ferramentas — encontradas a até 70 centímetros de profundidade —, e a datação revelou que os itens mais antigos foram criados entre 600 e 700 anos atrás. Isso significa que os macacos-prego começaram a produzir esses artefatos cerca de 200 anos antes da chegada dos europeus às Américas.
Portanto, de acordo com os pesquisadores, existe a possibilidade de que as populações indígenas que ocupavam o Brasil naquela época tenham observado os macacos usando pedras para quebrar as cascas de castanhas e sementes para ter acesso a fontes de alimento — e que tenham aprendido com eles a fazer o mesmo. Assim, em vez de os animais terem aprendido com os humanos, pode ser que tenha ocorrido o contrário. Teoria interessante, não é mesmo?
Os cientistas também estimaram que, ao longo desses 700 anos, as ferramentas foram usadas por cerca de 100 gerações de macacos-prego, e nesse tempo todo, os artefatos e o comportamento dos animais praticamente não mudaram. Traduzindo esse período em termos humanos, os 700 anos corresponderiam a cerca de 2-2,5 mil anos da nossa história — e nesse intervalo nós não só deixamos a Idade da Pedra para trás, como chegamos até onde nos encontramos hoje.