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O suicídio do presidente do FMI conduz o fio de "As confissões"
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Religiosidade e voto de silêncio no novo filme de Roberto Andô
Ator de teatro alçado ao reconhecimento também no cinema, o italiano Toni Servillo tem firmado parcerias preferenciais com realizadores do país. Um deles é Paolo Sorrentino. Outro, Roberto Andò, que renova o interesse no talentoso intérprete neste As Confissões. Nota-se, inclusive, semelhança de tramas e papéis anteriores, em especial As Consequências do Amor e A Juventude, ambos de Sorrentino.
Se não chega a somar a méritos já sabidos, Servillo não frustra e tem a vantagem de ter ao redor bom elenco. O drama de Andò trabalha tema político atual, a exemplo do anterior Viva a Liberdade. Em um hotel luxuoso na Alemanha, ministros de Economia de nações poderosas são convidados à festa de aniversário do presidente do FMI (Daniel Auteuil).
A presença de figuras fora do universo surpreende, assim como o suicídio do anfitrião momentos depois da confissão dada a um monge (Servillo). Religioso seguidor do voto de silêncio, ele será peça de difícil manobra para o interesse dos convivas acostumados ao mando. Conta, no entanto, com a solidária curiosidade de uma bem-sucedida autora de literatura infantil (Connie Nielsen), menos ingênua do que faz crer seu ofício.
As Confissões. Roberto Andò
A mediação feminina
O universo familiar de Kore-eda o liga aos mestres Ozu e Mizoguchi
Cada vez mais, Hirokazu Kore-eda confirma semelhança de habilidades com mestres que o precederam no cinema japonês. Em Depois da Tempestade, o procedimento revela-se nas questões familiares que tanto encantavam Ozu e na sensibilidade orientada ao caráter decisivo das mulheres de Mizoguchi.
Mas, diferente destes, o seguidor opta pelo registro de leveza e graça sem perder de vista a dramaticidade em muito determinada pela rigidez tradicional de sua sociedade.
Ryota (Abe Hiroshi) é o alvo da cobrança cabida ao homem adulto, filho ainda dependente e pai de família que não consegue cumprir seus papéis. Escritor de livro de sucesso no passado, vê-se sem dinheiro e tem emprego temporário de detetive particular.
A mulher o deixou por não conseguir conviver com sua inconstância, agravada pelo jogo e pela bebida. Tenta reconquistar o respeito do filho pequeno, mas mal consegue o da mãe recém-viúva (a ótima Kiki Kirin) e preocupada com o destino do rapaz. Será ela por fim, em figura de conciliação também recorrente à cultura, a centralizadora de reencontro ocasionado pelo tufão que simboliza a fraqueza e complexidade humanas.
Depois da Tempestade. Hirokazu Kore-eda
Estranho vizinho
O cinema do japonês Kiyoshi Kurosawa e sua predileção pela temática de fantasmas
Creepy investe a princípio em uma noção dúbia de gêneros que parece estimulante. Um jovem policial tem sua vida e carreira modificadas após enfrentamento com um criminoso. Traumatizado, afasta-se da linha de frente e passa a dar aulas sobre sua especialidade, ao mesmo tempo que muda com a mulher para novo bairro.
Ali, um estranho vizinho abre uma das duas linhas da condução de mistério. A outra vem no drama de garota que sobreviveu ao massacre de sua família.
Quem conhece o cinema do japonês Kiyoshi Kurosawa sabe de sua predileção pela temática de fantasmas. Não aquela de horror franco, mas a metafísica, como em Para o Outro Lado, ou sugestiva, a exemplo do inédito O Segredo da Câmara Escura, sua primeira produção europeia exibida na recente Mostra de São Paulo.
A decisão de adotar agora o thriller de alma americana e desviar para um suspense realista seria apenas mais uma demonstração de competência e versatilidade. Apenas que há exagerado contorcionismo do roteiro e dados implausíveis a questionar a realidade pretendida.
Creepy. Kiyoshi Kurosawa
Fonte: Carta Capital