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Mortos em erupção na Guatemala sobe para 69 e deve aumentar

Moradores de vilarejos próximos ao Vulcão de Fogo dizem não terem sido alertados por autoridades

Danos causados pelo vulcão no vilarejo de San Miguel Los Lotes - Johan Ordonez/AFP

O saldo de mortos pela erupção do Vulcão de Fogo, na Guatemala, subiu para 69 nesta segunda-feira (4) e espera-se que aumente ainda mais, pois muitos locais atingidos ainda estão muito quentes para serem vasculhados. 

Equipes em helicópteros conseguiram resgatar com vida ao menos 10 pessoas em meio à lama e às cinzas que chegavam às vezes à altura dos telhados das casas. Em alguns casos, eles tiveram de usar marretas para perfurar os telhados para ver se alguém estava preso dentro dos edifícios.

Moradores de El Rodeo, a cerca de 12 km da cratera, disseram que foram pegos de surpresa pelas cinzas quentes e pedras que se moviam rapidamente quando o vulcão explodiu no domingo (3).

Fluxos abrasadores de cinzas misturadas com água e detritos jorravam pelos flancos do vulcão, bloqueando estradas e queimando casas.

Hilda Lopez disse que a lama vulcânica atingiu seu vilarejo de San Miguel Los Lotes, abaixo da montanha, e que não sabia onde estavam sua mãe e sua irmã. 

"Estávamos em uma festa, celebrando o nascimento de um bebê, quando um dos vizinhos gritou que viéssemos ver a lava que estava vindo", disse. "Não acreditamos e, quando saímos, a lama quente já estava descendo a rua." 

"Minha mãe ficou presa lá, não conseguia sair", disse López, chorando. 

Seu marido, Joel Gonzalez,  disse que seu pai também não conseguiu escapar e devia estar "enterrado lá na casa". 

Ao menos 69 morreram. Todos eles são dos vilarejos Los Lotes e El Rodeo, mas apenas 17 foram identificados até agora, porque os rios de lama que atingiram temperaturas de até 700ºC desfiguraram os corpos. 

"Temos muito trabalho para identificá-los porque alguns dos mortos perderam suas características ou suas digitais. Vamos ter de usar outros métodos antropológicos e, se possível, recolher amostras de DNA para identificá-los", disse Garcia.

Em El Rodeo, soldados fortemente armados, vestindo máscaras azuis para impedir a poeira, faziam guarda atrás de uma fita amarela isolando o local, enquanto resgatistas operavam uma retroescavadeira. Um grupo de moradores chegou ao local com pás e botas de borracha. 

Alguns residentes disseram que nunca souberam do perigo até que ele chegou e criticaram as autoridades. 

A agência de desastres "nunca nos disse para sair. Quando a lava já estava aqui eles passaram em suas pick-ups gritando para que saíssemos, mas não pararam para pegar ninguém", disse Rafael Letran, morador de El Rodeo. "O governo é bom na hora de roubar, mas não na hora de ajudar as pessoas." 

Autoridades disseram temer que o saldo de mortes aumente pois há muitos desaparecidos. A agência de desastres disse que 3.265 pessoas deixaram os locais afetados.

Entre as mortes estão as de quatro pessoas da mesma família, mortas quando a lava incendiou a casa onde estavam, em El Rodeo, afirmou o coordenador de desastre nacional, Sergio Cabanas. Duas crianças foram queimadas vivas quando pararam para ver a segunda erupção de uma ponte, acrescentou. 

Vídeos dramáticos mostraram o avanço rápido do rio de lava, cinzas e lama destruindo a ponte de uma estrada entre as cidades de Sacatepequez e Escuintla.

Cinzas atingiram áreas da Cidade da Guatemala, distante 44 km do vulcão, bem como os departamentos (estados) de Sacatepequez, Chimaltenango e Escuintla. Ruas e casas ficaram cobertas na cidade colonial de Antigua, uma popular destino turístico. 

Autoridades de aviação fecharam o aeroporto internacional da Cidade da Guatemala devido ao perigo para os aviões, mas o local foi reaberto no meio da manhã desta segunda. 

Um dos mais ativos vulcões da América Central, o Vulcão de Fogo atinge uma altitude de 3.763 metros acima do nível do mar em seu pico. 


ALGUNS DOS VULCÕES MAIS LETAIS EM 25 ANOS

Indonésia (2010) Mais de 300 pessoas morreram depois da erupção do vulcão Merapi, na ilha de Java —o mesmo vulcão foi responsável  por 1.300 mortes em 1930

República Democrática do Congo (2002) Erupção do monte Nyiragongo, no leste do país, deixou mais de cem mortos

Filipinas (1996) Pelo menos 70 pessoas morreram por causa do vulcão Parker

Japão (2014) Erupção do monte Ontake (usado por quem faz trilha) matou mais de 60 pessoas, no pior caso do país em quase 90 anos

Peru (1999) Deslizamento de terra após erupção matou ao menos 3
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Fonte: Folha de S.Paulo