Meio Ambiente

Marina Silva diz que "desmatamento ilegal não pode ser tolerado em nenhum momento"


(IPAM)

 

Marina Silva foi convidada para um evento paralelo às negociações da Conferência do Clima (COP21) nesta terça-feira (08) para falar sobre o assunto que deu visibilidade à senadora fora do país: o combate ao desmatamento.

Mas, como ex-candidata à presidência da República, ela comentou também a situação política vivida pelo país: "Se ontem o Brasil achava que estava no fundo do poço, hoje vemos que estamos num poço sem fundo", definiu a sucessão de escândalos e o conflito com Eduardo Cunha que levou ao pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff.

Marina defendeu a continuidade das investigações da Lava Jato e negou qualquer interesse em se lançar como candidata a uma possível eleição convocada às pressas. "Eu sequer poderia ser candidata, pois ainda não tenho um ano de filiação à Rede Sustentabilidade", comentou sobre o partido fundado por ela.

Apresentada à plateia como ex-ministra de Meio Ambiente e "verdadeira guerreira em defesa da Amazônia", Marina criticou duramente o aumento da taxa do desmatamento no último ano. "Ela subiu num momento em que a economia está paralisada. Imagine se (a economia) estivesse crescendo."

As opiniões de Marina diminuíram o impacto do anúncio celebrado durante a COP21 de que os governos do Acre, Pará e Mato Grosso, maiores desmatadores, irão zerar o corte ilegal da mata até 2020 - dez anos antes do que o prometido pelo governo federal em sua INDC, documento em que o governo se compromete junto às Nações Unidas a cortar suas emissões de gases estufa.

"O desmatamento ilegal não pode ser tolerado em nenhum momento. Não há espaço para tolerância da criminalidade". Marina Silva.

A frase foi dita sob a presença do governador do Mato Grosso, Pedro Tanques, e do representante do governo do Pará, Justiniano Netto. Durante a COP21, os dois Estados apresentaram os números de redução de desmatamento da floresta na última década, que contribui para que a área degradada na Amazônia caísse de 27 mil a 5 mil km2 nesse período.

"Ainda tem desmatamento porque não tem governança suficiente na Amazônia", disse Paulo Adario, do Greenpeace, à DW Brasil. "Existe uma cadeia organizada de crime. A grilagem virou um negócio, a terra tem valor e o Brasil virou uma grande potência na produção de alimentos. Tem uma disputa pela terra", comentou sobre os bastidores do desmatamento.

As técnicas de monitoramento e controle são importantes, mas não suficientes. "Quem paga o pato são os povos indígenas, as comunidades locais. Eles são os verdadeiros donos dos recursos que provocam essa guerra, que é uma guerra desigual porque o outro lado tem dinheiro, influência política, impunidade e arma", completou Adario.

Durante a COP21, a ministra de Meio Ambiente, Izabella Teixeira, cobrou mais engajamento dos Estados brasileiros no combate ao desmatamento, e disse que o governo federal está fazendo além do que a lei exige.

"Gastamos mais de 500 milhões de reais para ajudar os estados a implementar o Cadastro Ambiental Rural (CAR)", comentou sobre o mecanismo que vai servir de base para o cumprimento do Código Florestal nas propriedades privadas.

O CAR vai ser fundamental para que o governo separe o desmatamento permitido pela lei do ilegal. Um novo satélite com maior precisão de imagens, previsto para ser lançado em fevereiro, vai aumentar a vigilância sobre a cobertura vegetal das áreas, afirmou o ministério.

Para Marina Silva, a divulgação desses dados para a sociedade é fundamental para dar transparência o processo e forçar a queda do desmatamento. "É preciso a volta do acesso aos dados do Deter (Sistema de Detecção do Desmatamento na Amazônia Legal em Tempo Real), que hoje virou uma caixa preta", diz Silva sobre a não distribuição das informações do sistema operado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais.

A ex-ministra defendeu a revisão do Plano de Ação para a Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal (PPCDam), que entrou em vigor em 2004. E considera o governo de Dilma Rousseff pouco interessado nas questões ambientais, que sempre provocam um debate internacional. "Um governo de coalizão que não tem força de sustentação no Congresso faz com que a agenda indígena, ambiental, de direitos humanos sejam sempre colocados como moeda de troca", resumiu.

Fonte: UOL