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Elo perdido explica surgimento dos primeiros dinossauros voadores
Os primeiros vertebrados a voarem foram os pterossauros, dominando os céus há 150 milhões de anos. Apesar de reinarem absolutos acima do solo, sua origem ainda permanecia nebulosa – agora, sabe-se que esses colossos alados são a evolução de um pequeno bípede terrestre, o lagerpetídeo.
O registro fóssil dos pterossauros é cheio de lacunas ainda não preenchidas – o Caelestiventus hanseni, seu ancestral mais antigo conhecido, data de 220 milhões de anos e já exibia todos os requisitos para voar.
“Nunca foram encontrados fósseis de pterossauros que não tivessem mecanismos de voo”, disse o principal autor do estudo publicado na Nature, o paleontólogo argentino Martín Ezcurra, do Museo Argentino de Ciencias Naturales Bernardino Rivadavia.
Na década de 1980, estudos confirmaram que esses dinossauros se assemelhavam às aves: eles batiam as asas (e não apenas planavam) e andavam sobre os membros posteriores. Na mesma época, surgiu a hipótese de seus parentes mais próximos seriam os lagerpetídeos. Tudo se encaixava na árvore evolucionária, mas não havia evidências que comprovassem essa hipótese.
Eles viveram entre 237 e 210 milhões de anos atrás; seu tamanho variava entre dez centímetros a um metro e seu peso não devia exceder os cinco quilos. Seus fósseis são difíceis de encontrar (a maioria, de membros posteriores) e estão espalhados por Brasil, Argentina, EUA e Madagascar.
Reconstrução
“Lagerpetídeos são os parentes conhecidos mais próximos, em termos evolutivos, dos pterossauros. Embora não voassem, tinham algumas características anatômicas – na mandíbula, no cérebro, no ouvido interno e nos dentes – similares às dos pterossauros”, disse à Revista Pesquisa Fapesp o coordenador do estudo, o paleontólogo Max Langer, da Universidade de São Paulo (USP).
Para chegar a essa conclusão, a equipe internacional de paleontólogos examinaram dezenas de fósseis espalhados pelo mundo. O trabalho não é recente; nos últimos 15 anos, cinco grupos de pesquisa de seis países e três continentes se uniram para tentar preencher as lacunas ainda abertas na história evolutiva do pterossauro.
A identificação recente de crânios e membros anteriores semelhantes aos dos pterossauros impulsionou a revisão da árvore genealógica. O uso de técnicas avançadas, como varredura micro-tomográfica (µCT) permitiu reconstruir o cérebro e os sistemas sensoriais dos lagerpetídeos.
“Alguns desses fósseis delicados foram coletados há quase 80 anos e, em vez de cortá-los destrutivamente, pudemos reconstruir cuidadosamente a anatomia do cérebro e do ouvido interno desses animais”, disse a paleontóloga Michelle Stocker, da Universidade Virgínia Tech.
Perfil exigido
O que tornou os lagerpetídeos ancestral dos pterossauros foi o perfil exigido: pequenos lagartos bípedes que andavam como os pássaros, com as proporções de seus membros delgados, bem como a forma de suas costas, consistentes com o corpo de uma ave.
Os pesquisadores usaram ainda uma abordagem conhecida como sistemática filogenética para determinar relações entre todos os grupos de organismos, incluindo dinossauros.
Essa técnica procura características recém-evoluídas entre organismos diferentes: aquelas evoluídas por último aparecem nas formas mais recentemente divergentes umas das outras e, portanto, são mais próximas geneticamente.
Os lagerpetídeos tinham os ossos da mão longos, um primórdio da adaptação ao voo, e compartilhavam características específicas com os pterossauros, como estruturas complexas de sua caixa craniana e do ouvido interno.
“Os resultados apresentados nesse estudo preenchem muitas lacunas no caminho evolutivo que levou um pequeno réptil terrestre a gerar o primeiro vertebrado capaz de voar”, disse o paleontólogo Kevin Padian.
Fonte: Tecmundo