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Trabalhadores denunciam abusos em fazenda da Volkswagen durante ditadura
Vítimas forçadas a trabalhar em condições análogas à escravidão em uma fazenda da Volkswagen no Pará durante a ditadura militar relataram abusos graves e sistemáticos, incluindo estupro e espancamento, afirmou um procurador nesta terça-feira (31).
O grupo alemão, segunda maior montadora do mundo, enfrenta uma ação judicial no Brasil por graves acusações de violações cometidas em uma grande fazenda que administrava na Amazônia nas décadas de 1970 e 1980 sob o regime militar, informou no domingo a imprensa alemã.
O procurador encarregado do caso, Rafael García, disse à AFP que os investigadores coletaram relatos de vítimas que foram atraídas com falsas promessas de empregos bem remunerados e depois forçadas a cortar madeira em condições extenuantes contra sua vontade. O local se tornou a maior fazenda de gado do Pará.
"Trabalhadores que tentaram fugir foram espancados, amarrados em árvores, deixados aí por dias", disse Garcia.
“Trabalhadores que se embrenharam na mata para fugir nunca mais voltaram, e apenas tinham relatos de que foram mortos. Trabalhadores eram sistematicamente agredidos fisicamente”, acrescentou.
Segundo o procurador, um grupo de investigadores passou três anos reunindo evidências no caso, depois que um padre local denunciou relatos de abuso na propriedade que ele havia coletado ao longo dos anos.
O relatório desse grupo de trabalho contém uma série de denúncias alarmantes de ex-funcionários da Fazenda Vale do Rio Cristalino, onde centenas de trabalhadores teriam sido duramente vigiados por guardas armados.
"Um peão tentou fugir, mas foi capturado pelos pistoleiros e obrigado a continuar trabalhando. Como punição, sua esposa foi roubada e violentada”, diz, citando o depoimento de três testemunhas.
"Outro trabalhador tentou fugir e foi baleado na perna pelos pistoleiros. Outro deixaram amarrado sem roupas", acrescenta.
Os trabalhadores foram mantidos em "servidão por dívida" ao serem forçados a comprar alimentos e suprimentos na loja da fazenda a preços exorbitantes, e alguns morreram de malária sem assistência médica, contou Garcia.
Questionado pela AFP, um porta-voz da Volkswagen garantiu que a empresa levou este caso "muito a sério" e os "possíveis incidentes" que teriam ocorrido. Mas não quis dar mais detalhes por enquanto "devido a um possível procedimento judicial".
A Procuradoria-Geral do Trabalho convocou a Volkswagen para uma audiência em 14 de junho, onde tentarão chegar a um acordo. Se as negociações falharem, a empresa poderá enfrentar acusações.
Em 2020, o grupo concordou em pagar 36 milhões de reais por colaborar com o Departamento de Ordem Política e Social (Dops) durante a ditadura (1964-1985) para identificar supostos opositores de esquerda e líderes sindicais, que depois foram presos e torturados.
Fonte: AFP