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Referendos sobre anexação russa já ocorrem em 4 regiões da Ucrânia
Lugansk, Donetsk, Kherson e Zaporizhia são as regiões que começam a votar, nesta sexta-feira (23), em referendos sobre a integração dos territórios à Federação Russa. As consultas populares são amplamente condenadas pela comunidade internacional e vistas como pretexto para a anexação russa e escalada na guerra em curso na Ucrânia.
Juntas, as regiões onde ocorre a votação representam cerca de 15% do território ucraniano. As consultas são realizadas em Lugansk, Donetsk, Kherson e Zaporizhia, de hoje a terça-feira (27), depois de forças ucranianas terem recuperado grandes faixas no Leste e Sul do país.
Os referendos vinham sendo planejados há muito tempo pelas autoridades russas, mas a contraofensiva vitoriosa das forças ucranianas nas últimas semanas acabou por adiantar a agenda de Moscou.
“A votação começou em Zaporizhia, a região vai tornar-se parte da Federação Russa!. Estamos voltando para casa!”, disse Vladimir Rogov, funcionário pró-russo na região.
A Ucrânia acusa a Rússia de procurar enquadrar os resultados do referendo como sinal de apoio popular e usá-los como pretexto para a anexação, à imagem do que aconteceu na Crimeia em 2014.
Nesta semana, em declarações à TV, o ministro russo dos Negócios Estrangeiros, Sergei Lavrov, afirmou que cabe às populações de cada território decidir se apoiam a realização de consultas para futura adesão à Federação Russa.
"Desde o princípio, temos dito que são as pessoas dos respectivos territórios que devem decidir sobre o seu destino".
Ao incorporar as quatro regiões, Moscou poderá justificar uma escalada militar no conflito, alegando que defende a soberania territorial em caso de ataque ucraniano com o apoio do Ocidente.
Em discurso à nação na última quarta-feira (21), o presidente Vladimir Putin garantiu que a Rússia vai “usar todos os meios ao seu alcance” para se proteger, além de ter anunciado a mobilização de 300 mil reservistas para apoiar o esforço de guerra.
Ontem, o ex-presidente russo Dmitry Medvedev alertou que todas as armas do arsenal de Moscou, incluindo as nucleares, poderão ser usadas para defender territórios anexados pela Rússia na Ucrânia.
“Não só as capacidades de mobilização, mas também quaisquer armas russas, incluindo as nucleares estratégicas e as baseadas em novos princípios, podem ser usadas para essa defesa”, declarou Medvedev, atual vice-presidente do Conselho de Segurança da Rússia.
Voto obrigatório
A Rússia já considera as regiões de Lugansk e Donetsk – que juntas formam a região de Donbass – como territórios independentes da Ucrânia. O mesmo estatuto das repúblicas populares de Lugansk e Donetsk foi reconhecido por Vladimir Putin dias antes do início da invasão russa, em 24 de fevereiro.
A região de Donbass é disputada e está parcialmente ocupada pelas tropas russas desde o conflito em 2014, mas Moscou não controla totalmente nenhuma das regiões onde os referendos vão ocorrer. Por exemplo, em Donetsk, 60% estão em mãos russas e o restante do território é controlado pelas forças ucranianas.
O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, disse nesta semana que o voto apressado nessas regiões só sinaliza os receios russos. “Qualquer decisão que a liderança russa possa tomar não muda nada para a Ucrânia”, afirmou.
Sergey Haidai, governador ucraniano da região de Lugansk, disse que o chefe de uma empresa na cidade de Bilovodsk, controlada pelas tropas russas, alertou os funcionários de que a votação no referendo será obrigatória. Todos os que se recusarem a votar serão demitidos e os seus nomes serão entregues aos serviços de segurança.
Em Starobilsk, as autoridades russas estão proibindo a população de sair da cidade até terça-feira. Há grupos armados revistando casas e coagindo as pessoas para votar no referendo, denuncia o governador ucraniano, citado pela Agência Reuters.
Assim como o referendo de 2014 na Crimeia, essas consultas populares são amplamente criticadas pela comunidade internacional e não são reconhecidas formalmente.
O voto ocorre em meio a críticas da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), do secretário-geral da Organização das Nações Unidas, António Guterres, e dos principais líderes do Ocidente, como o presidente norte-americano, Joe Biden, ou o chefe de Estado francês, Emmanuel Macron.
A Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE) - organismo que se destaca pelo papel na observação eleitoral - já afirmou que os resultados desses referendos não terão força legal, uma vez que são realizados à margem da lei ucraniana e dos padrões internacionais.
Além disso, grande parte da população dessas regiões fugiu devido à guerra, e a votação é feita em áreas não seguras, já que não é acompanhada por observadores independentes.
Fonte: EBC Brasil