Economia e Negócios
O futuro depois das eleições
Quem vencerá? Lula mantém a liderança. Mas Bolsonaro tem usado seus poderes executivos o máximo possível para destruir essa vantagem. As receitas iniciais superiores às despesas do governo foram transformadas em gastos crescentes – e às vezes encobertos. Também cresce o temor de possível violência por parte de seus apoiadores conforme se aproxima o aniversário de 200 anos da independência do Brasil da subserviência colonial a Portugal, em 7 de setembro. A relutância deles em aceitar uma vitória de Lula no fim de outubro – com adesão militar – é mesmo preocupante.
Sem dúvida existem diferenças políticas significativas entre os candidatos. Os eleitores devem ter pouca dificuldade em fazer uma escolha.
Em termos econômicos, o atual governo se comprometeu a voltar para um estilo de governança de livre iniciativa. Chegou o momento de desmantelar as características históricas do controle do governo sobre a propriedade privada. A estratégia econômica do PT muda de direção no presente para um papel mais significativo de decisão e gestão governamental.
No que diz respeito à educação, Bolsonaro tem sido um desastre. Seus ministros estão entre os piores em sua visão orçamentária e compromisso com a qualidade no geral. O PT prometeu maior acesso dos pobres à educação e tentou melhorar o alcance do setor público. Estados e municípios eram responsáveis por uma parcela maior dos recursos financeiros e nos processos de decisão.
Na cultura, também existem grandes diferenças. Bolsonaro acreditava que o patrimônio tinha uma importância central e que as consequências disso deveriam ser distorcidas, assim como a receita. Lula se preocupou especialmente com aqueles com menor renda, precisando de ajuda do Estado.
São exatamente essas diferenças ideológicas que levaram muitos no Brasil a apoiar em sequência uma longa lista de outros candidatos dispostos a escolher uma postura mais pragmática. Porém, cada um deles, em algum momento, apesar da resposta inicial favorável, foi perdendo força. Nenhum conseguia unir uma gama necessária de apoiadores no País.
O que deve acontecer agora? Aqui está uma lista simples com três possibilidades.
A primeira é a ampla participação nas eleições. Esta eleição não é meramente presidencial. Governadores, alguns senadores e todos os deputados do Congresso devem ser escolhidos. A gestão pública exige escolhas após as eleições que variam dependendo dos votos para os demais cargos. Os papéis dos presidentes do Senado e da Câmara são bastante importantes na avaliação de alternativas. Dada a fragmentação do apoio político geograficamente, as diferenças regionais históricas de renda e o caráter mutável da especialização comercial regional, uma política perspicaz pode ter sucesso, enquanto uma má escolha fracassará.
A segunda envolve alguns objetivos econômicos. O mundo de hoje está sujeito a altos níveis de incerteza. Isso não quer dizer ênfase em um conjunto de escolhas em mudança todos os dias, mas, sim, o contrário. O Brasil precisa mais de simplificação do que multiplicação: um valor maior de poupança interna, um maior compromisso com o comércio internacional e, principalmente, acesso ao avanço tecnológico global; além de um compromisso com uma melhor educação. Esses objetivos – se alcançados – prometem uma continuidade positiva no desempenho futuro.
A terceira é a substituição de uma regra para promover a redução da dívida e alcançar a estabilidade fiscal. O limite de gastos anuais do governo não é mais crível. Talvez possa se ter um resultado melhor com um teto de dívidas como o dos Estados Unidos. Isso daria ao Congresso brasileiro mais poder, ao mesmo tempo em que limitaria o do Executivo. Afinal, o Congresso dos EUA aprovou uma legislação que aumenta esse valor cerca de 80 vezes desde 1960. Uma lei que eleva diretamente os impostos quando o nível da dívida excede uma certa porcentagem do PIB é outra possibilidade.
Começar a pensar no futuro após as eleições já é uma necessidade. Talvez alguém finalmente acerte.
Fonte: Estadão