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Estudo de colheres sugere que bárbaros usavam estimulantes
Durante a Era Romana, guerreiros germânicos carregavam pequenos utensílios em forma de colher, que agora despertam a curiosidade dos arqueólogos. Estudos recentes sugerem que esses objetos, com extremidades arredondadas, poderiam ter sido usados para distribuir substâncias que ajudavam os guerreiros a enfrentar os desafios das batalhas.
Embora os cientistas ainda não saibam exatamente quais drogas eram essas, a hipótese levanta uma questão fascinante: seria possível que esses povos, fora do Império Romano, já usassem estimulantes e narcóticos em sua rotina de guerra?
Apesar de o uso de substâncias como o ópio ser bem documentado na Grécia e em Roma, o consumo de drogas entre os povos germânicos era algo até então desconhecido. Historiadores acreditavam que, fora dos impérios conhecidos, a única droga de consumo generalizado fosse o álcool.
No entanto, o estudo de pequenos utensílios, frequentemente encontrados em locais de sepultamento na Escandinávia, Alemanha e Polônia, pode mudar essa narrativa. Esses objetos, com tamanhos que variam de 4 a 7 centímetros, eram geralmente fixados aos cintos dos guerreiros, mas sem nenhuma função prática ligada ao ajuste do cinto.
A descoberta dos "colheres mágicas"
Os pesquisadores, liderados pelas biólogas Anna Jarosz-Wilkolazka e Anna Rysiak, junto com o arqueólogo Andrzej Jan Kokowski, começaram a analisar esses artefatos com mais cuidado. Foram catalogados 241 utensílios de 116 locais diferentes, e a conclusão começou a tomar forma: esses objetos estavam frequentemente associados a sacrifícios de guerra e, mais importante, com elementos de armamento.
Em seu estudo, os cientistas indicam que, devido a essa associação, os utensílios poderiam ter sido parte do equipamento de guerra dos guerreiros, usados talvez para preparar substâncias estimulantes durante os combates. Com base nessa análise, os pesquisadores levantam a hipótese de que essas colheres poderiam ter sido usadas para administrar estimulantes aos guerreiros, ajudando-os a suportar o estresse físico e emocional das batalhas.
"Este utensílio era uma parte comum da armadura de um guerreiro, e disso se aproxima a conclusão de que o uso farmacológico para estímulos era comum entre eles", destacam os cientistas em seu estudo. A ideia de usar substâncias para melhorar o desempenho físico não é nova e foi usada em diversos momentos da história, desde a Primeira Guerra Mundial até os dias atuais, com o uso de anfetaminas em conflitos militares.
O mistério das substâncias utilizadas
Para aprofundar a pesquisa, os cientistas investigaram as plantas e fungos que poderiam ter sido usados como estimulantes pelos germânicos. Entre as opções estavam o ópio, o lúpulo, a cânhamo, a beladona e até fungos alucinógenos. No entanto, não há como saber com certeza quais dessas substâncias eram de fato consumidas pelos guerreiros.
O que se sabe, contudo, é que os seres humanos sempre procuraram formas de alterar sua percepção da realidade por meio de drogas, e é pouco provável que as tribos germânicas da era romana não estivessem cientes desse potencial. Caso a hipótese seja confirmada, a descoberta revelará muito sobre os hábitos e a vida dos nossos ancestrais.
Os pesquisadores acreditam que o uso de substâncias naturais para fins medicinais e rituais é uma prática antiga e amplamente disseminada, algo que poderia ter sido muito mais comum do que imaginamos. A consciência dos efeitos dessas substâncias mostra que os guerreiros germânicos talvez possuíssem um conhecimento avançado sobre os recursos naturais e suas aplicações.
Fonte: Science Alert