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Em Brasília, 19h: corres e lutas na "rodô", a rodoviária da capital

Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom / Agência BrasilO caminho de volta pra casa, no horário de pico
O caminho de volta pra casa, no horário de pico

A famosa frase que abre o programa a Voz do Brasil  anuncia o horário oficial do país e desperta uma curiosidade. Afinal, como é a vida na capital, além do trabalho nos ministérios e autarquias federais? 

Na rodoviária da cidade, na hora de voltar para casa, percebe-se uma cidade que se move, se ouve. Na escada rolante. Na escada estática. Em movimentos, pela disputa pelo metro quadrado.

- Olha o amendoim. Um real. Baratinho - grita a vendedora Luciana Azevedo, de 35 anos.

- Olha a bolsa. Olha a mochila novinha - oferece Ambrósio Santos, de 49, à fila que se formou.

- Compro ouro, compro ouro - clama Thiago Neri, de 21.

Todos querem chegar à fila para o próximo ônibus. “Corre para não perder a vez”, gritam da janela de um dos carros. “Olha a fila”. O ônibus aquece. A luz do dia vai se apagando. “Olha a fila. Vamos! Quero ir pra casa, moço!”, diz a padeira Claudia Azevedo, de 50 anos

Há pressa nos olhares e nos passos. Chegadas e partidas nas caminhadas feitas em filas, em linhas retas, em corridas curvas. Há pressa, mas também é preciso moderar o passo, como em um cortejo, para não pisar o pé da frente. Esses passos corridos fazem o som que compete com o barulho dos motores dos ônibus. O cheiro da fumaça dos coletivos se mistura com o da pipoca, do amendoim, do pastel, do tacho de cocada… É a volta para casa na terceira metrópole brasileira, de mais de 3 milhões de habitantes, onde transitam cerca de 1,9 milhão de veículos, segundo estimativa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

A Rodoviária do Plano Piloto é um terminal de ônibus de pelo menos 284 linhas que rodam no Distrito Federal e cidades do Entorno de estados vizinhos. É como uma cidade por onde passam 700 mil pessoas por dia. Fica exatamente no coração da cidade, no centro das asas Sul e Norte, do Plano Piloto fundado em 1960. Está no cruzamento do eixos Monumental e Rodoviário, com vista para a Esplanada dos Ministérios. É como um espelho que reflete corres e lutas que humanizam aquela que parece ser apenas uma cidade administrativa. No anoitecer, o coração da capital pulsa forte.

O arquiteto Lucio Costa, que projetou a “capital da esperança”, se surpreendeu quando voltou a Brasília, na década de 1980, e deparou com a rodoviária. “Ao invés daquele centro cosmopolita requintado que eu tinha elaborado, [a plataforma] tinha sido ocupada pela população periférica, a população daqueles candangos que trabalham em Brasília”, constatou. “O povo dando vida, dando sangue, dando suor, dando suas lágrimas. Esse foi um grande momento da criação do projeto e da realidade que o próprio Lúcio Costa viu. Foi um tsunami de emoção do grande urbanista”, contextualiza o professor de urbanismo Frederico Flósculo, em entrevista.

Fonte: EBC Brasil