Polícia
Conheça o surgimento da CICO e o combate às principais ações do crime organizado no PI
Surgimento da CICO
Criada em 13 de outubro de 1999 para desbaratar o Crime Organizado no Piauí, a CICO (Comissão Investigadora do Crime Organizado) completou 11 anos em 2010, tornou-se uma delegacia especializada ligada ao gabinete do secretário de segurança, e tem trazido bons resultados no combate ao crime organizado e outras modalidades de crimes.
O primeiro desafio da CICO, ainda em 1999, composta por cinco experientes delegados da polícia Civil, dentre eles, Eduardo Ferreira, Menandro Pedro, delegado Ferreira e Bonfim Filho, foi investigar o chamado ”dossiê do crime organizado”, que apontava o então tenente-coronel da Polícia Militar, José Viriato Correia Lima, como sendo o chefe dessas ações criminosas. O escândalo havia vindo à tona em decorrência de escutas telefônicas feitas pela Polícia Federal com autorização da Justiça.
A investigação começou graças a denúncias de crimes bárbaros e misteriosos que vinham acontecendo no Piauí, há décadas, desde homicídios sem respostas de autoria até roubos de cargas e extorsão de prefeitos. As denúncias eram feitas de forma sutil pela imprensa, que temia represália, e pelo valente promotor de Justiça Afonso Gil Castelo Branco. Todos temiam a ditadura do Crime imposta pelo temido tenente-coronel da PM e seu bando.
Suas vítimas desapareciam misteriosamente, sem deixar rastros. Segundo a polícia, muitas delas após serem mortas, eram queimas com óleo diesel para não deixar vestígios. Os “modus operandi” do grupo era de fazer inveja a máfia americana dos tempos de Alcaponi e da máfia italiana.
Formação da CICO
Determinados a por fim a este mito do crime no Piauí, homens como o promotor Afonso Gil Castelo Branco, representando o Ministério Público estadual, o então deputado Federal Wellington Dias (PT/PI), Nelson Nery Costa (OAB-Pi), Alci Marcus, da valentia do então superintendente da Polícia Federal, Robert Rios Magalhães, dentre outros, reuniram-se e tiveram o aval do então governador Mão Santo para dar início às investigações contra o temido tenente coronel da PM, Correia Lima, que infelizmente era um funcionário público.
Para dar maior sustentação e apoio logístico às investigações, a CICO foi instalada em uma sala dentro da sede da Superintendência da Polícia Federal. Com o empenho dos delegados da CICO, muitos crimes foram desarquivados e os inquéritos reabertos para dar seguimento às investigações. Muitos dos crimes já eram do conhecimento dos experientes delegados, pois alguns destes crimes já haviam sido investigados pelos próprios delegados quando titulares em suas delegacias.
O grupo de Correia Lima, segundo a CICO
Alguns dos membros acusados de integrar o grupo de Correia Lima foram; o Domingão (ex-policial civil e braço direito de Correia Lima), o soldado PM José Correia Braga (irmão de Correia Lima) o soldado Moreira (outro homem de confiança de Correia Lima), o Salvador ( acusado de ser um dos mais perigosos capangas do tenente-coronel), dentre outros. Segundo os inquéritos, a maioria destes homens entrou na Polícia Militar por influência de Correia Lima, cujo critério para recrutamento era a fama de ser valente e bom atirador.
Segundo a CICO, na época, o crime organizado no Piauí era muito bem estruturado e funcionava como uma espécie de empresa e tinha até contador, cujo diretor era o Domingão. Segundo a polícia, a quadrilha atuava no roubo de cargas, alguns deles foram desvendados no decorrer das investigações, pistolagem, emissões de notas fiscais frias usadas para extorquir prefeitos, falsificação de documentos, dentre outros.
Correia Lima, além de muito perigoso, tinha influência em quase todos os poderes, segundo apontava os inquéritos da Comissão de delegados, na época. Segundo os investigadores, o acusado teria cometido crimes no Piauí, Ceará e em estados do Sudeste.
Alguns crimes de Correia Lima, segundo a CICO
Alguns dos crimes que ficaram na história, foram: o assassinato do delegado Civil Arias Filho, que foi executado praticamente na frente da Secretaria de Segurança do Piauí, com tiros nas costas, enquanto tomava café em uma lanchonete próxima. O criminoso, soldado Moreira, correu da secretaria de Segurança até o palácio de Karnak, na frente de todo mundo. Ainda assim foi julgado e inocentado do crime pelo Tribunal do Júri com a tese de legítima defesa da própria vida, com a conivência de um juiz e de um promotor da 1ª Vara Criminal, que achamos por bem não divulgar os nomes (já foram punidos). Uma demonstração de poder do então tenente-coronel da PM.
O motivo da morte do delegado Arias Filho teria sido o fato dele insistir na investigação da morte de outro policial civil, Leandro Safaneli, supostamente a mando de Correia Lima. Segundo os delegados da Comissão, Arias Filho teria sido designado para apurar a execução de Sanfaneli, e Correia Lima já teria orientado o delegado a abandonar as investigações.
Segundo a Comissão, o policial Sanfaneli teria morrido porque, além de namorar a filha caçula de Correia Lima (que preservamos o nome, pois hoje ela é casada) ainda andava se gabando por namorar a filho do homem mais temido do Piauí.
Segundo a polícia, Safaneli foi executado a tiros pelo bando de Correia Lima durante uma perseguição cinematográfica no Centro da Cidade de Parnaíba, quando o policial fugia em sua moto CB 400 Honda.
Influência no Judiciário
Correia Lima também foi acusado pelo duplo assassinato de dois representantes comerciais, Helio Silva e Einaldo Liberal, conhecido como “crime dos queimados”, cujos corpos foram encontrados carbonizados após terem sido mortos a bala.
Tudo era muito misterioso, segundo os investigadores, até que, com um trabalho apurado da Comissão de Delegados, chegaram ao tenente-coronel acusado. Segundo os delegados, todos os crimes de homicídios do bando de Correia Lima eram arquivados na 1ª Vara Criminal com a conivência de um juíz e um promotor de justiça, que eram beneficiados por Correia Lima.
Em uma correição na 1ª Vara Criminal, no decorrer das investigações, foram encontrados mais de cem processos arquivados, dados como sem autoria ou falta de provas, embora os inquéritos da polícia Civil fossem muito bem feitos, segundo os delegados. Muitos deles foram reabertos pela Comissão Investigadora do Crime Organizado.
Apólice de Seguro
Correia Lima também foi acusado de ter mandado assassinar o próprio tio, Sandoval Correia, no Estado do Ceará, para receber uma apólice de seguro, paga supostamente por ele (Correia Lima) com o objetivo de receber a “bolada”.
Segundo a Comissão, que viajou várias vezes ao Ceará para colher informações sobre o crime, simularam um acidente de veículo e jogaram o carro dentro de uma lagoa com o corpo do tio de Correia Lima. A polícia retirou o carro da água e ainda fez um vídeo que posteriormente ajudo nas investigações.
Um crime semelhante aconteceu no Piauí, quase na mesma época, segundo os delegados. Correia Lima teria pago um seguro de vida para seu cazeiro, apelidado por Zé Quelé, com parcelas mensais razoáveis. Para não levantar suspeitas, correia Lima fez um documento com cláusulas dizendo que, em caso de morte, ele (Correia Lima) e os filhos dele ficariam com 90% da apólice e a mãe de Zé Quelé, que foi induzida a assinar o documento, com apenas 10%.
Em caso de morte, a família beneficiada receberia o valor total do seguro, e, em caso de invalidez, era liberado apenas a metade.
Assim que terminou a carência para o recebimento do seguro, Zé Quelé, apareceu morto com várias tiros de revólveres e até golpes de faca, no bairro Cidade Jardim. A comissão descobriu que o crime foi cometido pelo bando de Correia Lima.
Pela suspeita do Crime, o tenente acusado teve dificuldade para receber o dinheiro da apólice do seguro, mas com a ajuda de um juiz de direto (que não era o da 1ª Vara ) o dinheiro foi liberado pela seguradora.
Primeira condenação de Correia Lima
A primeira condenação de Correia Lima, após inquérito da CICO, foi pelo o crime de lesão corporal contra o jornalista Efrém Ribeiro. Através das escutas telefônicas da Polícia Federal que deu origem ao dossiê, a comissão apurou que Correia Lima autorizava seus capangas a darem tiros para “quebrar as pernas do Efrém Ribeiro para ele deixar de ser linguarudo”. Tudo isso porque Efrém soltava notinhas denunciando os crimes supostamente praticados pelo bando de Correia Lima.
O crime não foi concretizado ao pé da letra, mas o Efrém tomou uma surra de facão que chamava a atenção pelos “estalos” enquanto jantava um capote em um restaurante da zona Lesta da capital, por volta das 19 horas, em companhia de outra colega jornalista. Por este crime, Correia Lima foi condenado e pegou cincos anos de prisão sendo a sua primeira condenação em suas ações criminosas apuradas pela CICO.
Além destes crime, Correia Lima, foi acusado pela morte do policial Honório e do engenheiro Castelinho, que saberemos em outra ocasião.
Em outra especial saberemos o desfecho desta história e um balanço das ações da CICO em 2010.
Fonte: por Edgar Rocha