Teresina (PI)

Anões de Teresina participam de audiência pública por acessibilidade

Foto: Catarina Costa/G1

 

 

Como todas as pessoas com alguma dificuldade de locomoção, os anões reclamam da falta de infraestrutura de acessibilidade em Teresina. Calçadas desniveladas, ônibus, caixas eletrônicos e lojas comerciais não adaptadas e o preconceito são alguns dos muitos obstáculos que os portadores de nanismo enfrentam todos os dias na capital do Piauí.

Para Valricélia Martins, de 48 anos, os anões são tratados como invisíveis e não existem políticas públicas direcionadas para elas. "Há muito tempo a gente tenta alertar que o nanismo existe, mas ninguém vê. O nanismo não é tratado como deficiência, mesmo estando na lei, mas muitos consideram apenas o cadeirante, o cego. Não temos acessibilidade ao abrir a porta de casa. Aqui em Teresina temos todas as dificuldades, especialmente no ônibus, banco, supermercado, nas lojas", afirmou ela que tem três irmãos anões.

Vanda Maria Martins, de 52 anos, irmã de Valricélia, conta que tudo em casa é adaptado de alguma forma para ela e seus irmãos, mas que na rua ocorre o oposto. "Se eu preciso subir, tem sempre um banco ali do lado. Tudo é facilitado para a gente, não chega a ser adaptado, mas damos um jeitinho. Fora de casa sinto todas as dificuldades, as calçadas, depois o ônibus, que é muito difícil de subir. Saio de casa todo dia às 6h, porque às 7h preciso entrar no trabalho, mas para pegar o transporte, preciso me arrastar", lamentou.

O acesso ao transporte público é uma reclamação constante. O desempregado Solimar da Silva, de 65 anos, diz que a falta de acessibilidade faz o anão passar por cenas vexatórias.

"Sempre passei por muitas dificuldades, principalmente ao pegar ônibus porque o corrimão e os degraus são altos. Preciso ficar esperando o transporte que eu consiga alcançar ou esperar a boa vontade do motorista para me oferecer uma mãozinha. Quando não, preciso me sujeitar a entrar engatinhando como uma criança. É muito humilhante", disse.

O idoso continua que os bancos não dispõe de terminais de caixas eletrônicos adaptados para anões e que terceiros acabam tendo acesso à seus dados pessoais das contas bancárias.

"Acho que todos sabem minha senha, porque não alcanço o caixa eletrônico e preciso contar com a ajuda dos outros. Aqui não tem um órgão público que tenha adaptação para os anões, até conseguir atendimento em hospital é difícil. A atendente só me vê quando abano o papel", afirmou.

Laura Marques, que é funcionária pública concursada, contou que a dificuldade passa também pelo acesso à educação e oportunidades de trabalho. "Foi muito difícil conseguir um trabalho. Ouvi muitas vezes as pessoas falarem que eu não poderia fazer nada e o melhor seria pedir uma pensão ao INSS. Mas superei isto, hoje queria ser duas ou três Lauras para dar conta do que eu faço", disse.

Audiência pública

A falta de acessibilidade para quem tem nanismo foi discutida durante audiência pública nesta terça-feira (17), na Câmara Municipal de Teresina.

"Existe a lei, mas ela acaba não sendo cumprida. A acessibilidade não é somente para quem tem alguma deficiência física, mas também mobilidade reduzida. Elas precisam ter acesso ao banco, ônibus, serviços públicos e até mesmo o emprego, que é dificultado pelas empresas. Espero que com esta discussão na Câmara possamos cobrar o poder público, e quem presta serviço à sociedade, a adequação para atender as pessoas com nanismo", declarou a vereadora Graça Amorim (PTB), que propôs a audiência.

Foto: Catarina Costa/G1

 

Estiveram presentes na audiência o Conselho Municipal de Defesa dos Direitos da Pessoa com Deficiência (Conade-TE), a Comissão de Defesa das Pessoas com Deficiência da Ordem dos Advogados do Brasil, seccional Piauí, e Strans.

Leia também: Anã brasileira é reconhecida internacionalmente como a "mais sexy do mundo" 

Fonte: G1 Piauí