Polícia
Anestesista colombiano é indiciado por estupro em hospital da UFRJ
A Polícia Civil do Rio de Janeiro indiciou, nesta segunda-feira (23), o anestesista colombiano Andres Eduardo Oñate Carrillo, 32, por estupro de vulnerável dentro do hospital do Fundão, unidade de saúde da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).
Segundo o inquérito, o caso aconteceu em 5 de fevereiro de 2021. A universidade diz que auxiliou nas investigações.
De acordo com a polícia, o médico confessou ter estuprado duas mulheres na mesa de cirurgia da unidade. Em depoimento ao qual à Folha DE S.Paulo teve acesso, o anestesista contou que "esfregava o pênis no rosto" das pacientes e que esperava estar sozinho no pré ou no pós-operatório para cometer os crimes.
A reportagem não conseguiu contato com seu advogado.
O médico disse aos policiais que "não sabe precisar o motivo pelo qual nutriu dentro de si a compulsão em ver e armazenar pornografia infantojuvenil" -e afirmou que nunca abusou sexualmente de crianças. Disse, ainda, que fazia buscas na internet que o levavam a links "que redirecionam o usuário para grupos de conversação do aplicativo WhatsApp", onde tinha acesso a material de pedofilia.
Em entrevista à Folha de S.Paulo, uma das vítimas disse que a violência ocorreu no pós-cirúrgico para a retirada do útero, dos ovários e de outro procedimento no reto.
Eliane Freitas da Silva, 54, contou ainda que só teve conhecimento do que havia ocorrido quase dois anos depois, no dia 2 de janeiro deste ano.
"O delegado me ligou e disse: você foi vítima de um crime sexual. Eu achei que se tratava de um golpe. Ele continuou ligando, desliguei o celular. Depois, uma viatura foi na minha casa. Na delegacia, ele perguntou se eu queria ver uma foto. Me reconheci nas imagens. Nelas, estava sendo abusada. Foi um choque", contou.
O hospital do Fundão disse que o médico não trabalha mais na unidade. "Aqui em nossa unidade ele realizou aqui um curso teórico-prático em março de 2018 e concluiu em fevereiro de 2021. É um curso similar a uma especialização."
Andres Eduardo também é investigado por um estupro em um hospital em Saquarema, na região dos Lagos. A vítima também estava sedada. Como os casos ocorreram em cidades diferentes, a polícia desmembrou os inquéritos.
Os atos de violência contra duas pacientes foram filmados e colocados em armazenamento digital. O material foi repassado para os investigadores após a polícia brasileira ser informada com base em um acordo de cooperação internacional.
Uma lei federal dos EUA determina que toda empresa fornecedora de comunicação eletrônica, como Google e Facebook, deve reportar casos de pornografia infantil ao NCMEC (Centro Nacional para Crianças Abandonadas e Abusadas, na sigla em inglês). O órgão então enviou o relatório à Polícia Federal brasileira, que encaminhou o material à Delegacia da Criança e Adolescente Vítima do Rio de Janeiro, responsável pelo caso.
Cerca de 20 mil arquivos contendo imagens de abuso sexual infantil também foram encontrado na nuvem digital. Com isso, a polícia abriu uma terceira investigação contra o anestesista por exploração sexual infantil. Ele também admitiu o crime, em depoimento.
O médico está preso desde segunda (16), após um mandado de prisão temporária de 30 dias ser expedido pela Justiça. A polícia, no entanto, informou que vai solicitar a conversão da prisão para preventiva, ou seja, sem prazo.
"A Delegacia da Criança e Adolescente Vítima concluiu o inquérito relacionado ao médico preso na semana passada por estupro de vulnerável. A especializada vai enviar o procedimento para a Justiça com o indiciamento do autor e a solicitação de conversão da prisão temporária em preventiva", informou a Polícia Civil.
Carrillo se formou em 2015 na Universidade de Magdalena (na Colômbia), e veio para o Brasil em 2017. O médico fez residência médica em anestesiologia, prestou o Revalida e, em 31 de janeiro de 2022, obteve a inscrição no Conselho Federal de Medicina.
O Cremerj (Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro) disse ter aberto uma sindicância contra o anestesista. Se confirmadas as acusações, o médico pode sofrer a cassação do exercício profissional.
Fonte: Aléxia Sousa e Bruna Fanttintti