Esporte
Análise: com "sorte" e bem mais organização, Corinthians evolui em início de Mancini

Dias depois de demitir Tiago Nunes, há pouco mais de um mês, o presidente do Corinthians, Andrés Sanchez, foi questionado se havia alguma característica necessária para o novo técnico da equipe. Ao seu estilo característico, sem rodeios nem polidez, o dirigente respondeu que era preciso "ter sorte", pois sem isso "nada vai para frente".
Nas duas vitórias que conquistou em três jogos no comando do Corinthians, ambas nos minutos finais das partidas, Vagner Mancini contou com uma dose de sorte. A bola que passa entre as pernas do goleiro do Athletico-PR, o desvio na zaga do Vasco... Mas, além de "pé quente", o Timão tem se mostrado bem mais organizado neste início de trabalho do treinador.
A amostragem é pequena. O triunfo por 2 a 1 sobre o Vasco veio no terceiro jogo sob regência de Mancini, que até agora comandou apenas sete treinamentos (quatro com todo o elenco). É muito pouco para qualquer tipo de conclusão, para bem ou para mal.
Mas o Corinthians parece ganhar uma cara. Uma equipe mais vertical, que tenta atacar de modo mais veloz, se defende com duas linhas de quatro jogadores e oferece mais dificuldade à saída de bola adversária.
Enquanto tem fôlego (o que dura pouco e será discutido mais abaixo), o Timão também avança as linhas de marcação e tenta roubar a bola no campo de ataque.
Lembra das trocas de passes entre zagueiros e laterais, habituais e irritantes nos tempos de Tiago Nunes e Coelho? Ela não existe mais.
Embora com um volume pequeno de passes certos (249), o Corinthians conseguiu finalizar dez vezes ao gol do Vasco e poderia ter vencido com mais tranquilidade de caprichasse mais na pontaria.
A escolha de Mancini por uma equipe sem centroavantes levantou dúvidas antes da partida, sobretudo pelas más condições do gramado de São Januário, que indicavam disputas mais físicas do que técnicas.
Mesmo assim, o Timão se comportou bem e foi superior na primeira etapa. Com a bola, a equipe se posicionava num 4-1-3-2, com Xavier à frente da zaga, Vital pela esquerda, Ederson mais centralizado, Ramiro pela direita, e Mantuan e Cazares avançados. Em alguns momentos, Vital subia, e o desenho parecia mais um 4-3-3. Todos eles tinham liberdade de movimentação, e Ramiro teve duas chances invadindo a área vascaína.
A estratégia mais reativa deu resultado, com um gol em bom contra-ataque armado por Vital, que contou com passe preciso e rápido de Cazares e boa finalização do jovem Mantuan.
A vantagem poderia ter ficado maior no começo do segundo tempo se Ederson não tivesse perdido chance quase na pequena área ou se Xavier e Ramiro não tivessem gols anulados (corretamente). As coisas também seriam mais fáceis se o árbitro tivesse marcado pênalti de Miranda em Mantuan.
Mas nada disso aconteceu, e o Corinthians passou a dar espaços que não vinha dando na etapa inicial. Mesmo desfalcado de dois de seus principais jogadores - Cano e Benítez - o limitado, mas valente Vasco passou a dominar.
O setor mais explorado pelos cariocas era o da esquerda da defesa alvinegra, entre Éderson e Fábio Santos. Foi por ali que os donos da casa criaram duas ótimas chances aos oito (com Ribamar, na trave) e aos 11 minutos (com Vinícius). A entrada de Léo Gil complicou ainda mais as coisas para o Timão.
Chama atenção como o Corinthians perde intensidade no decorrer das partidas. Por mais que a maratona de jogos seja desgastante e a preparação pós-quarentena não tenha sido ideal, a equipe não pode definhar de forma tão latente ao longo dos 90 minutos.
Apesar disso, há o que a Fiel torcida comemorar. O Corinthians ainda não tem uma escalação definida, daquelas que o torcedor tem na ponta da língua do goleiro ao ponta esquerda. E talvez nem tenha por conta desse calendário apertadíssimo. Mas a equipe vai encorpando com Vagner Mancini. A luta ainda segue sendo contra o rebaixamento, mas ela já pareceu mais difícil.
Fonte: Globo Esporte