Turismo
A pequena ilha indonésia que o Reino Unido trocou por Manhattan com a Holanda
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O arquipélago de Banda, na Indonésia, é também conhecido como as Ilhas das Especiarias.
Nos primórdios da exploração marinha, a região era conhecida por comerciantes árabes como Sete Mares: chegar até elas significava que você tinha velejado o mais longe possível do cinza da Europa.
Antigas cartas marinhas descreviam os Sete Mares como a "Terra dos Dragões".
Na Indonésia, há 17 mil ilhas e o oceano há milênios é usado como meio de transporte. Os barcos oferecem pistas sobre tribos e costumes. Canoas, por exemplo, têm o tamanho limitado pelo tronco das árvores de que foram esculpidas e nunca viajam para muito longe. Longas e estreitas, são perfeitas para saírem da areia, e cortam as ondas sem problemas.
Mas as grandes escunas, conhecidas como phinisi, em indonésio, é que contam uma história curiosa: assim como muitas das embarcações na Indonésia, têm fabricação artesanal, com cavilhas de madeira em vez de pregos, por exemplo.

Mas esses barcos de dois mastros têm design inspirados nas pinaças holandesas, embarcações que chegaram ao Mar de Banda pela primeira vez em 1599.
Ao lado de Portugal, Inglaterra e Espanha, a Holanda estava envolvida em uma corrida para encontrar as Ilhas das Especiarias e ganhar controle do comércio de produtos como cravo e canela. Havia o potencial de fazer fortunas e esses países queriam eliminar os intermediários - comerciantes asiáticos e árabes que escondiam a localização do arquipélago.
Quando os holandeses enfim encontraram as ilhas, decidiram proteger seu investimento com a criação da Companhia das Índias Orientais. Abusando da brutalidade contra a população local, eles ganharam o controle das plantações de noz-moscada, usada não apenas como tempero, mas também como remédio contra uma série de doenças que incluía a peste bubônica, então ainda afetando a Europa.
Naquela época, apenas Banda produzia noz-moscada. O isolamento do arquipélago, somado ao cultivo problemático da especiaria, tornava seu preço astronômico.
A noz-moscada vinga apenas em condições específicas - solo fértil e bem-drenado, em um clima úmido tropical. As árvores só dão fruto depois de sete a nove anos, e o processo extrativo é complexo.
Com a população local escravizada para trabalhar na colheita, tudo parecia pronto para um longo monopólio holandês.
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Mas havia no caminho uma pedra: em 1616, a Inglaterra conquistou Run, uma das ilhas de Banda.
Trata-se de um pedacinho de terra de menos de 3 km de comprimento e menos de 800 de largura, mas que se tornou a primeira colônia inglesa e passou a ser administrada pela Companhia Inglesa das Índias Ocidentais. Foi o primeiro passo para a formação do Império Britânico.
O enclave inglês resistiu apenas por quatro anos. Mas em 1664, Londres deu o troco ao enviar quatro fragatas para cruzar o Atlântico e tomar uma possessão holandesa conhecida como Nova Amsterdã, o que foi feito rapidamente. Três anos depois, ingleses e holandeses chegaram a um acordo e simplesmente trocaram as ilhas.
A Holanda ficou com Run. A Inglaterra, com Nova Amsterdã, logo rebatizada de Nova York.
Hoje em dia, a Indonésia é quem controla Banda e a noz moscada.
Além de ruínas de fortes, o estilo arquitetônico de algumas casas e a inspiração nas escunas, restam poucos sinais da presença anglo-holandesa. O local hoje é um paraíso para turistas em busca de passeios de mergulho.
Mas é tentador pensar no que teria acontecido com o mundo se os ingleses não tivessem trocado a pequena Run por Manhattan.
Fonte: BBC Travel