Edgar Rocha
Bacharel em Comunicação Social (Jornalismo)_UFPI e graduado em Letras pela Universidade Federal do Piauí (UFPI). Pós-graduado em Comunicação e Linguagens (UFPI), com atuação na área de educação e no jornalismo impresso, on line, e no rádio. (86) 8836 6357 / 9966 9377
Sobrevivência: Transplantes de órgãos no PI
Sobrevivência! Ela se manifesta sobre o homem de muitas formas. Alguns lutam por saúde, outros lutam por comida que, conseqüentemente, vai culminar na saúde, e a falta dela, em doença. A luta mais dura é a daqueles que esperam por um órgão humano, pois não sabem por quanto tempo vão permanecer vivos, ou se um dia terão uma vida normal. Esta é a luta dos portadores de doenças crônicas graves e daqueles que aguardam um rins, um fígado, ou uma córnea ou até mesmo um coração;
Dados da Central de Transplantes do Hospital Getúlio Vargas, em Teresina, a maior casa de saúde do Piauí, revelam que 450 pacientes esperam por uma córnea, outras 350, por um transplante de rins. As filas de espera vão se estendendo, hierarquicamente, para órgãos como fígado, coração, pele, medula óssea, dentre outros.
A médica nefrologista Lurdes Veras, coordenadora da Central de Transplantes do HGV, contou que desde a captação dos órgãos até a realização de um transplante existe todo um processo, começando por um cadastro com o nome das pessoas que manifestam interesse em doar seus órgãos até a finalização com o transplante propriamente dito.
Os nomes dos possíveis doadores são incluídos no Cadastro Nacional de Transplantes de Órgãos. “O transplante de um órgão atende, primeiramente, as necessidades em nível de Brasil, através deste Cadastro Nacional. Depois é que passamos a atender as necessidades locais”, explicou.
Vida útil dos órgãos e compatibilidade entre doadores e receptores
Lurdes Veras explica que a vida útil dos órgãos é muito pequena. A do coração, por exemplo, é de apenas quatro horas após ser extraído do corpo doador. É por isso que na fila de espera por órgãos, o do coração é um das menores. “Até agora só foram feitos 17 transplantes de coração, em nível de Brasil, incluindo rede pública e privada de saúde”, contou, lembrando transplantes de pessoas famosos como o do ator Norton Nascimento e do humorista Mussum, do quarteto “Os Trapalhões”.
Perguntei por que os transplantados de coração geralmente duram pouco tempo e morrem em conseqüência do transplante, Lurdes Veras explicou que, embora o doador seja compatível com o receptor do órgão, e tomem medicamentos para que o novo coração não seja rejeitado, não existe, fora da família, doador 100% compatível com o receptor.
“Somente os gêmeos univitelinos são 100% compatíveis, pois possuem o mesmo DNA porque são provenientes de uma mesma célula. Nos demais casos isso não é possível”, explicou, destacando que isso é válido para qualquer tipo de órgão humano.
Com relação à córnea, Lurdes Veras explicou que a vida útil deste órgão, assim que é extraído do doador, é de apenas 14 dias. Ele é preservado em um frasco contendo uma espécie de gel especial com os nutrientes que mantêm as células vivas. Ela explicou que o transplante de córnea é mais criterioso do que vários outros órgãos do corpo humano, pois existe a compatibilidade com a idade. “Um idoso de 70 anos, por exemplo, não pode doar um córnea para um adolescente de 17 anos”, disse, explicando ainda que a córnea do idoso já perdeu células e propriedades vitais para a visão de um jovem.
Os rins também são órgãos bastante sensíveis, segundo explicou a coordenadora da Central de Transplantes. A vida útil dos rins é de apenas 24 horas após serem retirados do corpo do doador. Esse órgão pode ser conservado no gelo.
Transplantes no Piauí
Ela contou que apenas transplantes de rins e córneas estão sendo feitos por enquanto no Centro Cirúrgico do Hospital Getúlio Vargas. Já os transplantes de coração ainda não estão sendo realizados por falta de profissionais médicos especializados neste tipo de transplante tanto na rede pública como particular. Ela explicou que uma equipe cirúrgica para transplantar coração conta com dois cirurgiões cardíacos, dois anestesistas especializados, e dois cirurgiões vasculares.
Transplantes de fígado também ainda não foram realizados no Piauí, segundo Lurdes Veras, e os casos urgentes que demandam transplantes são enviados para Fortaleza, no estado do Ceará.
Cadastro de doadores de órgãos
Lurdes Veras disse que além de córnea, fígado, rins e coração, a Central de transplantes também faz cadastro de doadores de pele, medula óssea e outros tecidos.
No caso da medula, as pessoas interessadas se inscrevem em um cadastro que é feito paralelamente com as campanhas de doação de sangue do Centro de Hemoterapia e Hematologia do Piauí (Hemopi), que acontecem freqüentemente em Teresina e no Interior. Após coletado é feito exame de DNA no laboratório da Universidade Federal do Piauí (UFPI), e depois enviado para o Rio de Janeiro para outros exames. As chances de se encontrar um doador compatível com o receptor, fora da família, é deu 1 para cem mil.
A questão da doação de órgãos é muito delicada porque as pessoas, embora manifestem a vontade de doar seus órgãos após morte, em caso de acidentes, em que os órgãos permanecem vitais, a famílias, as vezes, não permitem essa a captação.
“Por isso existem as campanhas de conscientização, pois a família é a única soberana na hora de permitir a retirada dos órgãos de seus mortos”, disse a coordenadora da Central de transplantes, lembrando ainda que não adiante a pessoa colocar na carteira de identidade que quer ser doador de órgãos.
Transplante em Diabéticos
Mesmo não sendo da área, a dotoura Lourdes Veras alerta que o Diabetes é uma doença muito perigosa por ser silenciosa, mata o indíivíduo aos poucos, e por danificar órgão importantes como os rins e os olhos. Ela explica que o diabético que não mantém controlado o nível de glicemia(glicose) está fadado a perder estes órgãos ao se aproximar a velhice.
A glicemia de uma pessoa normal gira em torno de 90 mg/dl. Alguns especialistas divergem, mas a maioria deles concordam que os doentes com níveis glicêmicos em torno de 110 mg/dl, considerado o limite para uma pessoa normal, já são considerados pré-diabéticos e acima disso a doença é irreversível. Uma pessoa doente tem que mantê-la em 140 mg/dl para que não haja complicações futuras com os rins e com os olhos. A doença pode ser hereditária ou ocasionada por um defeito no pâncreas, órgão responsável pela produção de insulina. A insulina é a enzima responsável pelo metabolismo do açúcar no sangue e que distribui as proteínas e a energia necessária para as células. Uma vez o pâncrea não funcionando, a glicose (açúcar dos alimentos) sai direto pela urina, sobrecarregando os rins.
A doutora Lourdes Veras alertou que o diabético precisa manter os níveis de glicemia em torno de 140 mg/dl, pois acima disso a glicemia causa obstrução (entupimento) dos capilares (uma malha de veias muito finas) que envolvem os rins e o fundo do globo ocular ( que o povo chama de caroço do olho). Ao ficarem obstruídas com a glicemia cristalizada, o sanque não regará mais os rins e o fundo do olho. No caso do olho, ocasiona o chamado glaucoma ocular (cegueira irreversível), e no caso dos rins, deixarão de funcionar necessitando de um transplante.