Edgar Rocha
Bacharel em Comunicação Social (Jornalismo)_UFPI e graduado em Letras pela Universidade Federal do Piauí (UFPI). Pós-graduado em Comunicação e Linguagens (UFPI), com atuação na área de educação e no jornalismo impresso, on line, e no rádio. (86) 8836 6357 / 9966 9377
Correia Lima e o Crime Organizado no Piauí: relato completo
Voce vai conferir um relato completo das investigações do crime organizado no Piauí, desde o estouro do escândalo do 'dossiê do crime organizado' do Piauí, em 1999, que originou a Comissão Investigadora do Crime Organizado, a CICO, resultando na prisão do ex-tenente coronel da PM (e seu grupo), acusado de ser o chefe do crime organizado no estado. Este relato foi o resultado de apuração de dados da polícia e de informações deste repórter que vivenciou, na prática, correndo atrás da notícia junto à Comissão Investigadora na época do escândalo.
Surgimento da Comissão Investigadora do Crime Organizado (CICO) e o escândalo do ‘dossiê do crime organizado’
Criada em 13 de outubro de 1999 para desbaratar o Crime Organizado no Piauí, a CICO (Comissão Investigadora do Crime Organizado) completou 11 anos em 2010, tornou-se uma delegacia especializada ligada ao gabinete do secretário de segurança, e tem trazido bons resultados no combate ao crime organizado e outras modalidades de crimes no estado.
Bonfim Filho era o delegado geral da Polícia Civil do Piauí, na época, responsável pela instalação da Comissão, e o secretário de segurança era Carlos Lobo que baixou a portaria criando a Comissão. O primeiro desafio da CICO, ainda em 1999, composta por seis experientes delegados da polícia Civil, sendo eles, Eduardo Ferreira, Francisco das Chagas Costa, o Bareta, Menandro Pedro, delegado Ferreira e Laércio Eulálio, foi investigar o chamado “dossiê do crime organizado”, que apontava o então tenente-coronel da Polícia Militar, José Viriato Correia Lima, como sendo o chefe dessas ações criminosas. O escândalo havia vindo à tona em decorrência de escutas telefônicas feitas pela Polícia Federal com autorização da Justiça.
As investigações começaram graças a denúncias de crimes bárbaros e misteriosos que vinham acontecendo no Piauí, há décadas, que abrangia desde pistolagem, com homicídios sem resposta de autoria, tráfico de drogas, roubos de cargas, extorsão de prefeitos, até falsificação de documentos. As denúncias eram feitas de forma sutil por alguns jornalistas, que temiam represália, e pelo valente promotor de Justiça Afonso Gil Castelo Branco com base em inquéritos da Polícia Civil. Todos temiam a ditadura do crime imposta pelo temido tenente-coronel da PM e seu bando.
Suas vítimas desapareciam misteriosamente, sem deixar rastros. Segundo a polícia, muitas delas após serem mortas, eram queimadas com óleo diesel para não deixar vestígios. Os “modus operandi” do grupo era de fazer inveja à máfia americana dos tempos de Al Capone e da máfia italiana.
Formação da CICO
Determinados a por fim a este mito do crime no Piauí, homens como o promotor Afonso Gil Castelo Branco, do Ministério Público estadual, o então deputado Federal Wellington Dias (PT/PI), Nelson Nery Costa (OAB-Pi), Alci Marcus (Direitos Humanos), da valentia do então superintendente da Polícia Federal, Robert Rios Magalhães, e apoio do também delegado federal Ayrton Franco, da garra dos delgados da Polícia Civil chefiado pelo delegado geral Bonfim Filho, do procurador da república no Piauí, Tranvanvan Feitosa, dentre outras autoridades, reuniram-se e tiveram o aval do então governador do Piauí, Mão Santa, para dar início às investigações contra o temido tenente coronel da PM que, infelizmente, era um funcionário público.
Para dar maior sustentação e apoio logístico às investigações, a CICO foi instalada em uma sala dentro da sede da Superintendência da Polícia Federal. Com o empenho dos delegados da CICO, muitos crimes tidos com sem autoria foram desarquivados e os inquéritos reabertos para dar seguimento às investigações. Alguns homicídios já eram do conhecimento dos delegados, dado ao modo de operar do bando de Correia Lima. Os crimes começaram a ser melhor esclarecidos através das denúncias de testemunhas quando souberam da prisão de Correia Lima, pois antes praticamente ninguém se atrevia a denunciá-lo.
O grupo de Correia Lima, segundo a CICO
Alguns dos membros acusados de integrar o grupo de Correia Lima foram; o Domingão (ex-policial civil e braço direito de Correia Lima), o soldado PM José Correia Braga, o Zé Correia (irmão de Correia Lima), o soldado Moreira (outro homem de confiança de Correia Lima), o José Enilson Couras, o Courinhas, primo do ex-tenente coronel acusado, dentre outros. Também tinha o Salvador dos Santos, que, segundo a polícia do Piauí, trabalhava como uma espécie de caseiro da chácara, mas que também executava as ordens de Correia Lima e testemunhou vários homicídios. Em alguns de seus depoimentos, conforme testemunhou esse reporter, Salvador disse ter Correia Lima como um pai porque ele (Correia Lima) o teria ajudado em momentos difíceis.
Segundo os inquéritos, a maioria destes homens entrou na Polícia Militar por influência de Correia Lima, cujo critério para recrutamento era a fama de ser valente e bom atirador.
Segundo a CICO, na época, o crime organizado no Piauí era muito bem estruturado e funcionava como uma espécie de empresa. Tinha até contador e o diretor era o Domingão. De acordo com os delegados, a quadrilha atuava no roubo de cargas (alguns deles foram desvendados no decorrer das investigações), tráfico de drogas, pistolagem, emissões de notas fiscais frias usadas para extorquir prefeitos, falsificação de documentos, dentre outros.
Correia Lima, além de muito perigoso, tinha influência em todos os poderes, segundo apontava os inquéritos da Comissão de delegados, na época. Segundo os investigadores, o acusado teria cometido crimes no Piauí, Ceará e em estados da região Sudeste.
Correia Lima também tinha como comparsa um delegado da Polícia Civil (que preservamos o nome porque já cumpriu pena), muito temido na época por sua valentia e que atuava na quadrilha na área de extorsão de prefeitos com venda de notas fiscais frias. Os prefeitos eram intimidados, ameaçados pelo bando e obrigados a comprar notas fiscais falsas para justificar gastos de obras inexistentes na hora de prestar contas ao TCE. Era uma forma de justicar desvio de recursos públicos e depois repartir entre eles. Pelo menos 20 prefeitos foram ouvidos pela Justiça para esclarecer a atuação da quadrilha de Correia Lima.
Principais crimes de Correia Lima, segundo a CICO:
Assassinato do delegado Arias Filho
Alguns dos crimes que ficaram na história foram: o assassinato do delegado Civil Arias Filho, que foi executado praticamente na frente da Secretaria de Segurança do Piauí, com vários tiros nas costas, enquanto tomava café em uma lanchonete próxima. O criminoso, soldado Moreira, correu da secretaria de Segurança até o palácio de Karnak, na frente de todo mundo, pulou o muro do Quartel do Comando da Polícia da Guarda (QCPG) e escondeu-se, de onde conseguiu escapar no porta-malas de um veículo Opala sem que ninguém o vice.
Julgamento do soldado Moreira
Como o homicídio foi público, o soldado Moreira chegou a ser julgado pelo crime, mas, embora tenha atirado no delegado pelas costas, ainda assim foi inocentado pelo Tribunal Popular do Júri com a tese de legítima defesa da própria vida. Segundo a polícia, houve a suspeita de intimidação do Júri (Conselho de Sentença) pois os homens de Correia Lima (um dos quais o Salvador) assistiram ao julgamento e sentaram bem na frente dos jurados. Para a polícia, isso pode ter interferido no resultado da votação dos sete jurados, pois inocentaram o soldado Moreira por unanimidade.
Como estavam desarmados foram autorizados a entrar no plenário. Existia também, na época, a suspeita da conivência de um juiz e de um promotor de Justiça da 1ª Vara Criminal, que achamos por bem não citar os nomes, pois já foram punidos. Segundo a polícia, no dia seguinte, a absolvição do soldado Moreira foi comemorada com um churrasco festivo na chácara de Correia Lima, inclusive com as presenças do juiz e do promotor. Uma demonstração de poder do então tenente-coronel da PM, o que levou a polícia a suspeitar do envolvimento do magistrado e do promotor neste caso.
Motivo da execução de Arias Filho
O motivo da morte do delegado Arias Filho, segundo informações da época, teria sido o fato de ele insistir na investigação da morte de outro policial civil, o Leandro Safaneli, a mando de Correia Lima. Segundo os delegados da Comissão, Arias Filho teria sido designado para apurar a execução de Sanfaneli, e Correia Lima já o teria orientado a abandonar as investigações.
Segundo a Comissão, o policial Sanfaneli teria morrido porque, além de namorar a filha caçula de Correia Lima (que preservamos o nome, pois hoje ela é casada) ainda andava se gabando por namorar a filha do homem mais temido do Piauí.
Segundo o promotor Afonso Gil, em uma conversa que tivemos na época, Safaneli foi executado a tiros pelo bando de Correia Lima durante uma perseguição cinematográfica no Centro da Cidade de Parnaíba, quando o policial fugia em sua moto Honda CB 400.
Crime dos Queimados
Correia Lima também foi acusado pelo duplo assassinato de dois representantes comerciais, Helio Araújo Silva e Einaldo Xavier Liberal, conhecido como “crime dos queimados”. Uma pessoa (que não vamos citar o nome porque já se entendeu com a Justiça) teria encomendado tal crime ao grupo de Correia Lima. Segundo os delegados da Cico, o escritório funcionava na Avenida João XXIII, na zona Leste de Teresina. Após isso, um homem chamado Evaldo Júnior atraiu as vítimas para o chamado ‘cheiro do queijo’ (que na gíria policial significa atrair a vítima para o local da morte), convidando-as para um bar chamado “Agaves”, na periferia da zona Leste de Teresina para uma suposta comemoração entre eles. Ao chegarem lá, em poucos minutos, apareceram o Zé Correia, o Moreira e o Domingão. Segundo a polícia, as vítimas foram amarradas, torturadas e mortas com tiros de pistola. Os corpos foram encontrados ainda amarrados e parcialmente queimados na localidade Taboca do Pau Ferrado, zona rural da região do Grande Dirceu.
O crime chegou a ser investigado pelo então delegado Evaldo Farias, na época, titular do 8º DP (Grande Dirceu), mas o inquérito foi arquivado por falta de provas materiais, embora a polícia desconfiasse que se tratava de uma ação do grupo de Correia Lima. O crime aconteceu em 1998, e, com a criação da Comissão Investigadora do Crime Organizado, em 1999, o inquérito foi reaberto e esclarecido o envolvimento do bando de Correia Lima.
Apólice de Seguro: assassinato do próprio tio, Sinval Correia
Correia Lima também foi acusado de ter participado do assassinato do próprio Tio, o comerciante Sinval Correia, no município de Jucás, no Estado do Ceará, para receber uma apólice de seguro, cujo crime foi tramado pelo primo dele (Correia Lima), o José Enilson Couras, o Courinhas, com o objetivo de receber a “bolada”. O crime aconteceu em abril de 1986 no município de Jucás, no estado do Ceará. Segundo o Ministério Público cearense, Sinval fez dois seguros (um no Bradesco e outro no Banco do Nordeste) em nome dele e de suas filhas poucos dias antes do assassinato. O motivo da morte teria sido este seguro.
Segundo informações do Jornal Diário do Nordeste, neste crime tiveram participação o Correia Lima, o Courinhas e o Salvador dos Santos. Correia Lima teria emprestado o seu carro (um Landau) para o Salvador e o Courinhas executarem o crime. Segundo a Comissão de Delegados da polícia civil do Piauí, que viajou ao Ceará para colher informações sobre o homicídio, o grupo simulou um acidente de veículo e jogou o carro dentro de uma lagoa com o tio de Correia Lima. Segundo depoimentos, o Salvador dirigiu o Landau e pulou do carro assim que caiu na água. A polícia cearense retirou o carro do lago no dia seguinte com o corpo do comerciante, há 12 metro de profundidade e ainda fez um vídeo que posteriormente ajudo nas investigações. O processo tramitou na comarca de Jucás, depois na de Itú e terminou em Fortaleza. O motivo da transferência teria sido o fato de Courinhas ser temido na região e influenciar nos resultados do processo.
Segundo o jornal Diário do Nordeste, Courinhas foi sentenciado a 15 anos de prisão, o Salvador dos Santos a 12 e Correia Lima seria julgado depois por conta de um recurso de seus advogados. Não se tem informação se o Courinhas cumpriu esta pena, mas o Salvador, que cooperou com as investigações da polícia piauiense, não cumpriu pena, nem no Ceara nem no Piauí, e Correia Lima responde pelos crimes do Piauí.
Assassinato do caseiro Zé Quelé (apólice de seguro e queima de arquivo)
Um crime semelhante aconteceu no Piauí, quase na mesma época, segundo os delegados. Correia Lima teria pago um seguro de vida para seu caseiro, apelidado por Zé Quelé, com parcelas mensais razoáveis. Para não levantar suspeitas, Correia Lima fez um documento com cláusulas dizendo que, em caso de morte, ele (Correia Lima) e os filhos dele ficariam com 90% da apólice e a mãe de Zé Quelé, uma senhora de idade avançada e que foi induzida a assinar o documento, ficaria com apenas 10%.
Em caso de morte, o seguro era liberado totalmente, e em caso de invalidez, apenas a metade.
Assim que terminou a carência para o recebimento do seguro, Zé Quelé, apareceu morto com vários tiros de pistola e até golpes de faca, no bairro Cidade Jardim. A comissão descobriu que o crime foi cometido pelo bando de Correia Lima, alguns dos quais, o Zé Correia e o Domingão.
Pela suspeita de ordenar o Crime, o tenente acusado teve dificuldade para receber o dinheiro da apólice do seguro, mas com a ajuda de um juiz de direto ( que não era o da 1ª Vara ) o dinheiro foi liberado pela seguradora.
Segundo o delegado Bonfim, atual presidente da CICO, em uma conversa recente com este repórter, além do seguro, outro grande motivo da morte de Zé Quelé teria sido ‘queima de arquivo’, pois o caseiro sabia muito e testemunhara as reuniões e conversas do grupo na chácara de Correia Lima. Quando não tinha mais interesse para o bando ele mandava executar.
Assassinato do cabo Honório
Segundo a polícia, Honório Barro Rodrigues era um cabo da PM que tinha trânsito livre na chácara de Correia Lima. A polícia não disse o nível de envolvimento do cabo com o grupo do ex-tenente coronel acusado, mas sabe-se que o mesmo foi executado com um tiro de escopeta, disparado pelo José Enilson Couras, o Courinhas. Esta estória foi contada pelo Salvador dos Santos em depoimento à Justiça, que, após ter estourado o escândalo do dossiê do crime organizado, resolveu cooperar com as investigações em troca de proteção e do benefício da ‘delação premiada”. O Salvador dos Santos foi localizado, na época, no município de Gilbués, interior do Piauí, onde marava com a família e incluído no Serviço de Proteção às Testemunhas. Segundo ele, após matarem o cabo, jogaram óleo diesel no corpo e atearam fogo.
Além de queimado, o corpo de Honório foi achado esquartejado dentro de um saco na avenidade Maranhção, nas proximidades da ponte que liga Teresina à Timon (MA), no bairro Tabuleta, zona Sul da capital. O crime ocorreu no final dos aos 80 e o motivo da morte do cabo Honório, segundo a polícia, também seria ‘queima de arquivo’, pois o policial sabia muito e vivia ameaçando abrir a boca e denunciar os crimes do grupo.
O assassinato do motorista "Gaúcho"
No auge das investigações dos crimes supostamente praticados por Correia Lima e seu grupo, a polícia chegou ao conhecimento, através de depoimento de testemunhas, da execução de um caminhoneiro conhecido por ‘Gaúcho, em uma estrada que dá acesso ao município de Bom Jesus, na região Sul do estado, divisa com o estado da Bahia. A polícia soube que tratava-se do roubo de uma carga de “secos e molhados’, o caminhão havia sido escondido em uma chácara da região, e o motorista foi executado. Através dos depoimentos, a polícia chegou às ossadas do caminhoneiro assassinado em um matagal do município de Bom Jesus.
O assassinato do engenheiro Castelinho
Segundo o atual presidente da CICO, o iquérito policial da época apontou o motivo da morte do engenheiro da antiga Cepisa, José Ferreira Castelo Branco, o Castelinho, como sendo passional. Segundo o inquérito, o crime teria sido encomendado pela própria esposa (o processo ainda está para ser julgado, mas preservamos o nome dela para evitar constrangimento) de Castelinho que é prima de Correia Lima. Ela teria descoberto a traição do marido que, supostamente, se envolvera com outra mulher. Segundo a polícia, a execução foi uma espécie de favor do tenente-coronel acusado a pedido de sua prima, e Courinhas e o soldado Moreira foram apontados pela polícia como sendo os autores do homicídio.
A vítima foi abordada quando fazia cooper, no bairro Horto Florestal, zona Leste de Teresina, a poucos metros de sua casa. O criminoso teria mandado a vítima ficar de costas e encostado em um muro, e executou-a com um tiro na nuca. Apesar da tese de crime passional, existia também uma outra, na época, que corria paralelamente, de que o motivo do crime poderia ser por causa do dinheiro de um seguro de vida que a vítima teria feito em seu nome, em que a esposa seria a beneficiada. Mas a tese não foi confirmada pela polícia.
Primeira condenação de Correia Lima: A "Surra" do jornalista Efrém Ribeiro
A primeira condenação de Correia Lima, após inquérito da CICO, foi pelo crime de lesão corporal contra o jornalista Efrém Ribeiro. Através das escutas telefônicas da Polícia Federal que deu origem ao dossiê, a comissão apurou que Correia Lima autorizava seus capangas a darem tiros para “quebrar as duas pernas do Efrém Ribeiro para ele deixar de ser linguarudo”. Tudo isso porque o Efrém soltava notinhas denunciando os crimes supostamente praticados pelo bando de Correia Lima.
O crime não foi concretizado ao pé da letra, mas o Efrém tomou uma "surra" de facão que chamava a atenção pelos “estalos” enquanto jantava um capote em um restaurante da zona Leste da capital, por volta das 19 horas, em companhia de outra colega jornalista. Por este crime, Correia Lima pegou cincos anos de prisão sendo a sua primeira condenação em suas ações criminosas apuradas pela CICO.
Correia Lima é condenado pelo “crime dos queimados”
Há mais de 10 anos tramitando na Justiça, o processo foi julgado no mês de fevereiro de 2011 quando Correia Lima foi condenado pelo Tribunal Popular do Júri a 47 anos e seis meses de reclusão por mais um dos seus crimes, o chamado “crime dos queimados”. Correia Lima já havia sido condenado a 41 anos de prisão pelos delitos já julgados, e, cumprindo pena há dez anos, havia sido beneficiado para responder em liberdade, mas com a nova condenação voltou para a penitenciária Mista de Parnaíba.
Todos os crimes eram muito misteriosos, segundo os investigadores, até que, com um trabalho apurado da Comissão chegava-se aos poucos ao tenente-coronel acusado.
Segundo os delegados, todos os crimes de homicídios do bando de Correia Lima eram arquivados na 1ª Vara Criminal com a suspeita de conivência de um juíz e um promotor de justiça, segundo os delegados, na época.
Em uma correição na 1ª Vara Criminal, no decorrer das investigações, foram encontrados mais de cem processos arquivados, dados como sem autoria ou falta de provas, embora alguns inquéritos da polícia Civil fossem bem feitos, segundo os delegados. Muitos deles foram reabertos pela Comissão Investigadora do Crime Organizado (CICO).
"O Crime Organizado não está morto", diz Bonfim Filho
Atualmente Correia Lima voltou a cumprir pena na Penitenciária Mista de Parnaíba pelo “crime dos queimados” e os outros processos continuam em andamento.
Durante o julgamento pelo Tribunal Popular do Júri, em Teresina, que aconteceu no final do mês de janeiro deste ano, Correia Lima é condenado a 47 anos e seis meses de reclusão pelo duplo assassinato dos representantes comerciais Hélio Araújo Silva e Einaldo Xavier Liberal.
Citando sempre a bíblia, pois agora se diz evangélico, Correia Lima demonstrou uma forma de intimidação contra aquelas pessoas que ele acha que o puseram na prisão. Durante depoimento no Tribunal do Júri, ele disse ser inocente no ‘crime dos queimados’ e fez acusações sérias contra o ex-superintendente da Polícia Federal, Robert Rios Magalhães.
Segundo o delegado Bonfim, Correia Lima disse em depoimento que os responsáveis por ele (Correia Lima) ter sido preso seria o delegado aposentado da PF, Robert Rios Magalhães, os jornalistas Arimatéia Azevedo e Feitosa Costa, e, inclusive, o Bonfim Filho, numa demonstração de intimidação na opinião do delegado. “ Ele disse que eu vou terminar morrendo nem que seja do coração”, contou, destacando que o grupo de Correia Lina tem sede de vingança e que todos eles estão soltos por já terem cumprido pena. “Mas a gente não se sente com medo porque isso faz parte do ofício”, completou.
No dia do julgamento de Correia Lima no Tribunal Popular do Júri, o delegado Evaldo Farias, que investigou o ‘crime dos queimados’, disse em entrevista que se sentia ameaçado. Ele contou que foi cumprimentado, com uma intimidade nunca vista, por um policial que ele (Farias) havia investigado no caso dos queimados e que há muito tempo não o via. Ele disse que é muita coincidência esse ato acontecer justamente um dia antes do julgamento do ex-tenente coronel acusado.
CICO faz balanço das atividades em 2010
Criada, inicialmente, para combater as ações do crime organizado no Piauí, a CICO (Comissão Investigadora do Crime Organizado), agora ligada ao gabinete do secretário de segurança do estado, passou a ter outras atribuições, como combater seqüestros, roubos a bancos, carro forte, crime de pistolagem, extorsão, dentre outros.
Segundo o atual presidente da CICO, delegado Bonfim Filho, todos os anos são feitos vários inquéritos e enviados à Justiça e, no final de cada ano, são feitos relatórios de todas as atividades desta especializada.
O delegado disse que no ano de 2010 foram instaurados 28 inquéritos, e concluídos 19 de anos anteriores. Aconteceram oito ocorrências a instituições bancárias, das quais seis roubos qualificados (assaltos a banco), um furto qualificado (arrombamento de agências) e uma tentativa de furto na agência do Banco do Brasil da cidade de Curimatá, em que toda a quadrilha, composta de seis bandidos, foi presa.
Segundo o delegado, nestes procedimentos foram presas 75 pessoas, incluindo prisões temporárias e preventivas. Foram apreendidas 29 armas sendo dez fuzis, do tipo 762 e 556 (AR 15), oito pistolas, cinco revólveres, quatro espingardas, uma escopeta e um rifle.
Alguns inquéritos estão em andamento referentes a homicídios ocorridos no ano passado, dentre eles, a do assassinato do empresário Antônio dos Santos, dono da Casa do Camarão, o assassinato do contador Guilherme, ocorrido na região do bairro Saci, na Zona Sul, e o inquérito da morte da vitima conhecida por Alípio ocorrido em Campo Maior.
Bonfim disse que todos esses inquéritos já estão 75% concluídos, faltando alguns detalhes para o fechamento das investigações. Existem mais de 30 investigações em andamento, todas dentro dos prazos legais. Segundo o delegado, alguns inquéritos que ainda não tinham sido concluídos foram pedidos dilação de prazo.
Dos casos de maior repercussão, como o da morte do empresário Antônio dos Santos, ao contrário do que muita gente pensava, não foi crime de pistolagem. “Como o fato ocorreu muito próximo da morte da esposa do empresário assassinado, as pessoas pensavam tratar de um crime encomendado, por vingança. Mas, na verdade, foi caso de latrocínio (roubo seguido de morte)”, disse delegado.
Segundo o delegado, pelas investigações, o criminoso invadiu o recinto de arma em punho, pedindo dinheiro, e o empresário reagiu, atirando uma cadeira contra o marginal. “O pistoleiro não age desta forma. Ele geralmente faz uma tocaia para emboscar a vítima. Certamente ele, esperaria o empresário sair do estabelecimento e atiraria do lado de fora, não da forma como aconteceu”, destacou.
O Bonfim disse ainda que o assassino já foi identificado e reconhecido por testemunhas, e atende pelo prenome de Valdinar. O juiz já expediu mandado de prisão e, por enquanto, o criminoso continua foragido. “Já foram feitas várias diligências dentro e fora do Piauí e o nome do assassino já está no Infoseg (Sistema de Informações em que o individuo é identificado assim que usa qualquer documento para fazer compras), sendo que desta forma não tem como ele se esconder por muito tempo”, finalizou.