Ciclos viciosos e virtuosos

As expressões ciclos 'vicioso' e 'virtuoso' são cada vez mais comuns em nosso cotidiano e no universo da arte. Um ciclo vicioso, para alguns, seria não se inserir no sistema de mercado, marginalizar-se e, por conseqüência, afastar-se cada vez mais daquilo que se deseja combater.

Longe das galerias, o artista pode preservar a sua autonomia e capacidade intelectual, mas mostra e comercializa seu trabalho para quem? E, se vender num mercado 'paralelo', não estaria criando seus próprio sistema, o qual precisaria também combater para manter a coerência estética?

Não há saída nesse pensamento, resultado, de uma visão de que o artista precisa ser marginal para ter qualidade. A inserção no mercado depende de numerosos fatores – muitos alheios ao próprio artista. Ter sucesso de venda e de público não pode ser visto como pecado, não sendo necessário ser marginal ao sistema para obter reconhecimento.

O ciclo virtuoso não estaria em conseguir inserir obras de qualidade num mercado marcado pela mesmice? Isso não contribuiria para elevar o padrão do gosto comum? Ansioso por novidades, o sistema abre brechas. Saber aproveitá-las é uma prova de talento e de sobrevivência nos concorridos mercados globalizados na vida e na arte.

Oscar D'Ambrosio, Doutor em Educação, Arte e História da Cultura e Mestre em Artes Visuais, atua na Assessoria de Comunicação e Imprensa da Unesp.