Dr. Valrian Feitosa

Edgar Rocha
Bacharel em Comunicação Social (Jornalismo)_UFPI e graduado em Letras pela Universidade Federal do Piauí (UFPI). Pós-graduado em Comunicação e Linguagens (UFPI), com atuação na área de educação e no jornalismo impresso, on line, e no rádio. (86) 8836 6357 / 9966 9377

A curta trajetória de um jovem professor, símbolo de um projeto social em THE

O jovem professor de matemática Ary Fernandes de Sousa, de 24 anos, que teve a vida interrompida na fatídica manhã de domingo (18), no entroncamento da Avenida Miguel Rosa com a BR - 343, no bairro Redenção em Teresina, vítima de um trágico acidente de trânsito, envolvendo o seu carro e um ônibus da empresa Itapemirim, é exemplo de um vencedor que sempre se destacou diante dos desafios que a vida impõe a quem quer crescer e atingir objetivos.

O piauiense Ary Fernandes de Sousa nasceu no dia 05 de janeiro de 1987 na Vila da Paz em Teresina praticamento na mesma época em que surgia os primeiros casebres da comunidade. Ele foi um dos frutos do trabalho social do padre italiano Pedro Balzi , radicado no  Piauí, que dedicou boa parte da sua vida aos doentes de câncer em Teresina e à comunidade pobre da Vila da Paz, na zona Sudeste de Teresina. Ali, padre Pedro, como era chamado carinhosamente, ficou comovido com a situação precária de centenas de famílias que viviam em moradias de taipa sobre um bairro de terreno acidentado, cheio de morros e grotões.

Pe. Pedro Balzi / foto: reprodução

Daí então, com o aval do bispo de então, Dom Miguel Câmara, padre Pedro passou a morar na vila e a realizar um trabalho social nunca visto em Teresina. Ele buscou recursos e investiu na construção de creches, escolas do ensino fundamental e médio, construção de igrejas e um intenso trabalho de evangelização. Ele faleceu aos 82 anos em 05 de outubro de 2009 causando grande comoção entre os moradores da comunidade da Vila da Paz e em toda capital do Piauí.

Projeto Esperança para adoção à distância e distribuição de cestas básicas / foto: Edgar Rocha

Ary Fernandes começou em um destes projetos idealizados pelo pároco da vila. Chegou ao sucesso profissional com muita dedicação e vontade e com a orientação do padre incansável. Era filho de uma família humilde da Vila da Paz, a dona de casa Maria da Conceição e do eletricista montador (desempregado) Gentil Pereira da Silva, de 49 anos. Segundo sua mãe, Ary nunca freqüentou escola particular. Começou sua jornada ainda muito cedo, aos 2 anos e meio de idade, na creche comunitária fundada por padre Pedro (Creche Nossa Senhora da Paz), que fica a menos de um quarteirão de sua casa.


Dona Maria da Conceição (mãe), Ary Fernandes e Gentio Pereira (pai)

Dona Conceição nos contou que Ary sempre foi uma criança exemplar e muito dedicada aos estudos. “Desde pequeno ele nunca reclamou na hora de ir para a escola, estava sempre pronto”, contou.
Após as primeiras lições na creche, Ary teve de sair para outra escola porque lá não tinha da 1ª à 4ª série e matriculou-se na escola municipal Alcides Neves, também na Vila da Paz, aos 7 anos de idade. Após concluir as quatro primeiras séries ele retorna à escola de Padre Pedro aos 11 anos para fazer o Ensino Fundamental (5ª a 8ª série) onde é selecionado dentre os cinco melhores alunos do Escolão do padre Pedro.

Escola fundada por padre Pedro Balzi / Vila da Paz / foto: Edgar Rocha

O IFPI, antigo CEFET, ofertava 10 vagas (cinco para meninos e cinco para as meninas) às melhores notas da escola do padre Pedro para estudar o Ensino Médio por lá. Ary teve o orgulho de ser o primeiro do grupo dele. Sempre orientado pelo padre Pedro, que tinha o esmero e o dom da paciência e insistência para ensinar bons valores aos seus pupilos.
O estudante ganhou notoriedade, sendo, inclusive, destaque na mídia local como sendo o símbolo do trabalho social do padre Pedro. Sem nunca repetir de série em toda a trajetória, Ary Fernandes concluiu o ensino médio técnico no CEFET em Informática.

Foram muitos dias dedicados aos livros e muitas noites mal dormidas, segunda a família, porque ele sabia que a concorrência era muito grande e, certamente, iria estar disputando uma vaga no ensino superior com outros que frequentavam boas escolas. Mesmo assim, ele conseguiu provar que com um pouco de determinação e força de vontade se consegue muitas coisas.

Catedral de Nossa Senhora da Paz / foto: Edgar Rocha

Em seguida, Ary presta Vestibular para o curso de Matemática, também do CEFET, sendo aprovado entre os melhores. Realiza assim um dos seus sonhos e comemora muito cam a família e os amigos. No decorrer do curso, Ary fez todo o seu estágio na escola do padre Pedro onde também estudou, dando aulas de matemática para estudantes carentes da Vila da Paz.

Ary com dedicatórias da formatura no curso de Matemática do IFPI. Ele agradece a fromatura à família e ao Padre Pedro, quem chamou de 'amigo'.

“Sentia muito orgulho do meu filho pelo fato dele nunca ter freqüentado uma escola particular e chegar onde chegou”, contou dona Conceição ainda muito emocionada.

Depois outro desafio, passar no primeiro concurso. Muito dedicado aos seus objetivos, Ary, com apenas 21 anos presta concurso para professor do Estado sendo aprovado na sua área para professor do Ensino Médio. Realiza outro sonho e mais comemoração e felicidade. Um ano depois assume o cargo e começa a colher os primeiros frutos da sua dedicação.


Ary ao lado da noiva (esquerda próxima) e da mãe (direita) / foto: Álbum de família

Sempre de bem com a vida e muito bem relacionado com os amigos, segundo os próprios colegas, Ary também soube conquistar a amizade dos seus alunos e diretores das escolas onde trabalhou. A matéria do dia do acidente cujo link está mais abaixo, teve mais de mil mensagens e comentlários (não liberamos todas) de alunos, amigos e conhecedores da história do jovem professor Ary, e mais de 8 mil acessos em menos 24 horas do acidente.

Logo em seguida presta o segundo concurso, agora para professor de Matemática do Instituto Federal de Educação Tecnológica do Estado do Maranhão (IFMA), sendo aprovado para a cidade de Barra do Córda. Segunda a mãe dele, neste concurso ele foi bem colocado e foi chamada mais rápido. “Ém menos de um mês ele foi nomeado e chamado para trabalhar.
A partir daí foi a redenção da vida dele, segundo a família, porque o dinheiro melhorou e passou a realizar os sonhos. Comprou o seu primeiro carro, um Fiat Uno Way 2011, o do acidente, e começou a construir a sua casa. Ary pretendia se casar, no mais tardar, em janeiro do próximo ano com a jovem Nayara, estudante de enfermagem. “Ele já tinha feito até o ‘chá de panela’ para o casamento”, contou o pai.

Ary e a noiva Nayara

Segundo dona Conceição, Ary dividia a semana ministrando aulas no colégio estadual Arthur Medeiros, no Jardim Europa, no começo da semana, e nas quintas e sextas-feiras trabalhava no CEFET do Maranhão. Aos sábados dava aulas em um pré-vestibular da Prefeitura de Teresina. Ele também já havia trabalhado em vários colégios da rede particular de ensino.

Ary com os colegas de faculdade / foto: Álbum de família

Agora o último desafio de sua curta vída: conciliar as aulas em Teresina (PI) e em Barra do Corda (MA) para onde viajava toda semana. Saía de Teresina às 00:00 horas, da Rodoviária Lucídio Portela para chegar em Barra Corda no começo do dia para se recompor e dar aulas, onde ficava 5ª e 6ª feira. Às vezes, ia de carona ou levado pelos irmãos, no próprio carro, até a vizinha cidade de Timon (MA) para pegar outro ônibus até a cidade de Barra do Corda.

Ary não conseguiu realizar um dos seus maiores sonhos, que era casar-se e ter o primeiro filho como ele expressou na sua última aula antes do acidente, segundo um dos seus alunos em comentário enviado ao portalrg.com (voce lê em comentários da matéria do dia do acidente).
A trajetória de vida do professor de Matemática Ary Fernandes dos Santos, de 24 anos, que começou na escolão comunitário do padre Pedro, na Vila da Paz, foi tragicamente interrompida às 5h30, de domingo, 18 de setembro de 2011, segundo os patrulheiros da PRF.
Ele vinha sozinho no seu Fiat Uno que teve a frente totalmente destruída. Na se soube o motivo do acidente, mas, pelas circunstâncias, segundo os patrulheiros, o carro da vítima teria saído da sua mão e entrou na pista contrária da BR-343, colidindo de frente com um ônibus da empresa Itapemirim.
Tivemos a informação de que Ary retornava de uma festa de formatura de amigos. O Acidente foi próximo ao seu bairro, a Vila da Paz. Ele foi o segundo professor a morrer em uma semana em Teresina ocasionado por acidente de trânsito. Na semana passada morreu de acidente de trânsito em Teresina o professor Jair Bezerra Cavalcante de 27 anos de idade. As estatística apontam a morte de pelo menos10 professores piauienses em menos de uma década, todos de acidente de trânsito. Dois deles envolvendo vans de transporte de professores ao atrabalho. Um aconteceu na BR-316 transportando professores de Timon e Teresina para a cidade de Caxias no Maranhão, e outro que transportava professores para o interior do Piauí.

O corpo do professor Ary Fernandes foi velado no Centro Paroquial da Fundação da Paz e depois saiu em cortejo acompanhado por milhares de pessoas dentre amigos, parentes e moradores da Vila da Paz. Depois é sepultado no Cemitério jardim do Alto da Ressurreição em Teresina, no final da manhã de segunda-feira (19).

Clique aqui e veja matéria do dia do acidente

FOTOS: Edgar Rocha / Portalrg.com